Boa parte da força do juiz Sérgio Moro advém do imenso apoio da opinião pública ao combate à corrupção na Lava Jato. Ele sabe disso, assim como deve ter constatado que, nos últimos tempos, perdeu aquela aura de intocabilidade do início da apuração. É natural um certo desgaste, depois de dois anos, e os excessos cometidos foram alvo de críticas diversas, até mesmo do ministro relator no STF, Teori Zavascki, embora poucas decisões de Moro tenham sido revistas.
Mas essa conjuntura, em que o juiz da Lava Jato começa a apanhar também de artigos na imprensa – aos quais reagiu mal – e de articulações do establishment político para aprovar projetos restringindo poderes excessivos dos investigadores, explica a nova investida midiática de Moro.
Depois de mandar prender Eduardo Cunha na quarta-feira – um ato que só recebeu aplausos do distinto público -, o juiz usou a quinta para uma rara aparição pública televisionada. Moro foi parar até no Jornal Nacional com o recado em que defendeu as prisões, disse que os processos não podem ser “de faz de conta” e criticou a tentativa de aprovar projeto no Congresso punindo mais rigorosamente o abuso de autoridade.
Esse movimento do juiz tem o claro objetivo de se fortalecer junto à sua principal fonte de apoio, a opinião pública. É provável que consiga, sob o efeito da prisão no malvado favorito de toda a nação. Por trás de tudo isso, porém, trava-se uma queda de braço mais profunda, aquela que pode decidir quem manda hoje no Brasil.