Combatentes pela paz

A crença na paz não depende das circunstâncias, mas da vontade individual e coletiva de tornar este mundo melhor

Combatentes pela Paz

Peguei o final do episódio Ruptura e Política, da série documental Alma Imoral, dirigida por Silvio Tendler, exibida no Canal Curta.

Ex-capitão israelense – Foto Reprodução

O rabino Nilton Bonder entrevistava um ex-capitão israelense que agora faz parte do grupo Israelo-palestino Combatentes pela paz. Ele explicou que era sionista quando mais jovem e servia às forças de defesa de Israel, até perceber que o que fazia infringia direitos humanos de forma massiva. Um dos fatos que o fez mudar de ideia em relação ao conflito entre os dois povos foi o dia em que seu filho, ainda bebê, estava muito doente e ele teve de correr para o hospital e esperar que o segurança abrisse a cancela para que seu carro pudesse entrar. Naquele momento ele lembrou de todas as vezes em que criou barreiras para a passagem de palestinos. Ele imaginou que situação semelhante pudesse ter acontecido e a cancela, talvez, não tivesse sido aberta. Esse é um belo exemplo de empatia.

Ex-combatente palestino – Foto Reprodução

O rabino entrevistou também um ex-combatente palestino, que já tinha sido preso em Israel e agora atua no mesmo grupo. Na prisão, pôde assistir a um filme sobre o Holocausto. Ele achava que seria um filme sobre Hitler e os judeus e que sentiria prazer em ver o povo que ocupava seu território sofrer. Mas ele chorou e se compadeceu daquelas pessoas inocentes, esqueceu que eram judeus. Outro belo exemplo de empatia.

Quando saiu da prisão, decidiu se unir a outros companheiros em busca de paz. Ele explicou que, apesar de achar legítima e necessária a resistência dos árabes, percebeu que é uma luta inútil, em que, no fim das contas, todos perdem. Disse acreditar que se tornaram soldados de verdade quando largaram as armas e conseguiram conversar.

Combatentes pela paz

Por fim, o palestino relata que, quando já atuava no grupo Combatentes pela paz, um soldado israelense muito jovem atirou na cabeça de sua filha de 10 anos, na saída da escola. Ela veio a morrer dois dias depois. Durante o tempo em que a menina ficou no hospital, ele e sua família tiveram muito apoio tanto de israelenses quanto de palestinos.

E concluiu dizendo: “um soldado israelense atirou e matou minha filha, porém cem ex-soldados e oficiais israelenses estiveram do meu lado e ajudaram a construir um jardim na escola em sua homenagem”.

Esse fato não destruiu sua crença de que a paz é a melhor solução.

Manifestantes pró Bolsonaro fazem sinal de arma durante carreata na Esplanada dos Ministérios – Foto Orlando Brito

Enquanto isso, no Brasil, há quem queira armar a população e disseminar o ódio e o espírito bélico.

E há quem não entenda que pessoas que estiveram em lados opostos da trincheira possam hoje estar juntos por uma causa maior.

P.S.:
O livro A Alma imoral, de Nilton Bonder, pode ser encontrado nas livrarias. A série documental e o filme, baseados no livro, com direção de Silvio Tendler, podem ser vistos no Canal Curta ou no YouTube. A peça Alma imoral, monólogo magistralmente encenado pela atriz Clarice Niskier, em cartaz desde 2006, está sendo apresentada atualmente na sala Eva Herz, em São Paulo.

Todas as versões valem muito a pena.

O livro A Alma imoral, de Nilton Bonder
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