A notícia da morte da rainha Elizabeth II no início da tarde de ontem me pegou de surpresa, apesar do “gato subiu no telhado” que a realeza armou durante toda a manhã. Ela sim parecia imorrível.
Há poucos meses acompanhei a morte de outra mulher incrível que, aos 81 anos, saiu de cena com muita dignidade. Thereza (muitas pessoas sabem de quem estou falando) tinha deixado em documento registrado em cartório sua vontade de não ter a vida prolongada artificialmente, de querer morrer da forma mais natural possível, e assim foi feito. Ela morreu bonito e nos deixou uma grande lição, assim como deixou muitas lições em vida, foi uma grande psicóloga.
Elizabeth provavelmente não tenha deixado sua vontade expressa, mesmo porque talvez nem ela acreditasse mais que iria morrer um dia. Mas creio que, caso ela tenha pensado nisso, desejaria também uma morte digna, sem demora, sem muitas intervenções, sem que tivesse de experimentar a decadência física. Na última terça-feira ela recebeu a nova primeira-ministra britânica em seu palácio preferido. Cumpriu seus compromissos reais até quase o último dia de vida. Que belo exemplo de quem sabia e respeitava o tamanho de sua responsabilidade.
Ela foi rainha de todos e não apenas dos devotos da monarquia. Tenho certeza de que até o mais republicano dos britânicos nutre grande respeito por Elizabeth II. Respeito que ela conquistou pela maneira competente, dedicada e elegante com que sempre tratou a Coroa Inglesa.
Antes de se tornar rainha, a jovem Elizabeth foi pra guerra, trabalhou como enfermeira e dirigiu caminhão. Ela provou que princesa de verdade não fica fazendo pose pra marido machista. Princesa de verdade bota a mão na massa, trabalha muito e escolhe o marido (ou a mulher) que quiser, se quiser.
Parece que Elizabeth e Phillip viveram realmente felizes para sempre.