Acordo surpreendido com a morte de Hugo Rodas. Isso no dia e na hora do acontecido. Uma angústia tomou conta de mim. Não conhecia bem o Hugo. Estivemos juntos em algumas festas, nos sentamos à mesma mesa em ambientes diversos, convivemos no Beirute das décadas de 70/80. Mas amigos não fomos. Conhecidos, no máximo. Uma namorada da época, poetisa, me apresentou a turma das artes cênicas. Convivia mais com a turma da música. Enfim, conhecia o Hugo.
A morte chegou rascante, embora soubesse que estava perdendo a guerra contra um câncer. Me lembrei talvez da última que o vi em toda sua exuberância. Era um carnaval, Teresão (Teresa Rollemberg, maguinha como ela só) resolveu fazer um bloco de sujo. O Teretetê! Já debilitado fisicamente, mas lúcido como sempre, Rodas era o destaque num carro improvisado. Estava ali a alegria de um carnaval pré-pandemia e antes dessa coisa ruim do homicida. Pois bem, depois dessa dor nostálgica, resolvi ir ao velório. Já sabia de antemão que seria um espetáculo digno de Dionísio. Me lembrei, numa livre associação, dos espetáculos e velório do J. Pingo, o Carlos Alberto de Campos Velho.
Na chegada, encontrei dois velhos e bons amigos: Ricardo do Monte Rosa e Jaime Ernest Dias. Fiz bem em ir, morria um pouco da minha Brasília, com um dos mais importantes representantes de uma época. A dúvida se deveria ou não comparecer foi embora.
E, como uma história puxa outra, me lembrei do velório de Roger Vadim. Não, eu não fui, mas o Élio Gaspari escreveu o que conto de memória: no velório do cineasta francês, entre várias celebridades, estava um senhor desconhecido, simples, sem destaque.
Um repórter, curioso como têm que ser os repórteres, se aproximou e perguntou ao desconhecido:
– O senhor conhecia o morto?
– Não, respondeu um compungido cristão.
-Mas o que senhor está fazendo aqui, insistiu o jornalista, há algum motivo?
Humildemente o senhor respondeu:
– Precisa de motivo para homenagear um homem que namorou Brigitte Bardot, Jane Fonda e Catarine Deneuve?
Hugo namorou Brasília e várias gerações.