Estamos terminando o domingo, dia 06 de Fevereiro, e nessa semana, parece que aconteceu uma surpresa. Voltamos a ter dias com mais 1000 mortes! Mas será que foi uma surpresa? Eu diria que apenas para aqueles que não observam os números com cuidado.
Em vários artigos, bem como em vários órgãos da imprensa, e também, surpreendentemente, em vários comentários de especialistas, a notícia que vimos e ouvimos era que essa versão do “bichinho”, o tal de ômicron, era muito menos letal que as anteriores, as delta e gama, até 10 vezes menos!
Um erro comum é calcular o índice de letalidade (óbitos/casos) comparando os dados do mesmo momento e não considerar que as mortes de hoje referem-se a casos de duas semanas atrás (entre 14 e 17 dias pra ser mais exato). Por exemplo, a média de 7 dias na segunda semana de janeiro (17 a 23/01) foi de 150.000 casos e 293 óbitos, logo, teria uma letalidade de 0,02%.
Só que não! O certo é comparar os casos da semana de 17 a 23/01 com a média dos óbitos de duas semanas depois, 31/01 a 06/02 (762 mortes) isso resulta em uma letalidade de 0,05% (meio por cento, pra ficar mais claro), ou duas vezes e meia maior!
Mas no ano passado não estava entre 2 e 3%? Sim.
O índice de letalidade está muito melhor, mas não porque o “bichinho” está mais calmo, mas sim por causa da vacina. Olhem só: Se as informações médicas mostram que os óbitos atualmente ocorrem majoritariamente entre aqueles não vacinados ou com vacinação incompleta e que representam entre 75 e 90% das mortes, temos que, sem as vacinas, as mortes seriam de 4 a 10 vezes maiores. Pra ficar mais claro, em vez de 1.000 mortes em um dia, teríamos 4.000 (no caso mais “otimista”) ou 10.000 mortes/ dia!!! Viva a vacina!
Então vamos tentar avançar um pouco com alguma projeção. Se as mortes correspondem aos casos de duas semanas antes, então, ao longo dessa semana de 07/02 teremos, infelizmente, uma média móvel da semana em algo perto de 925 óbitos/dia (0,5%), já que na semana de 24/01 foram 185.000 casos/dia. E na semana seguinte, parece estar se estabilizando, porque o número médio de casos na semana de 01/02 foi um pouco menor = 170.000.
Uma outra forma de tentar uma projeção é usar um índice que é divulgado no site do governo e que mostra os “casos em acompanhamento”. Esses casos só comportam dois desfechos. Ou o paciente se recupera, ou morre. Com a letalidade em 0,5%, e os casos em acompanhamento que hoje estão em 3.200.000, já sabemos que 16.000 óbitos estão “contratados” para as próximas duas semanas (ou 17 dias), o que aponta pra 900 a 950 mortes/ dia, similar à estimativa anterior.
Em resumo, toda vez que você ouvir que “o número de casos novos hoje foi de 200.000”, pode esperar algo próximo de 1.000 mortes daqui a duas semanas.
E quando vai melhorar? O número de óbitos vai diminuir duas semanas depois que o número de casos diminuir, o que já começa a acontecer em algumas cidades ou estados onde os índices de vacinação estão mais avançados.
Lembrando: Além disso, sempre que o índice de vacinação aumenta, o índice de letalidade diminui. Espero que essa redução comece e seja rápida como foi (e está sendo) em vários países e que nós não entremos novamente naqueles platôs que não acabam nunca.
E que possamos baixar para menos de 400 óbitos/dia onde nos aproximaremos da “normalidade” dos óbitos de outras causas de mortalidade, como pneumonias, septicemias, AVCs, infarto e outras. Enquanto isso, vamos incentivar todos a completar os ciclos de vacinação e vamos continuar com os hábitos de higiene, máscaras e distanciamentos aprendidos nesses dois anos.
PS: Como a medida do número de testes diários não é muito precisa, e isso impacta o número de casos, alguma margem de erro (pequena) pode afetar as projeções.