Com a competência de sempre, Ricardo Stuckert clicou nessa segunda-feira (31), em São Paulo, uma bem produzida e emblemática foto dessa campanha eleitoral, que expõe de maneira glamorosa o estamos juntos entre Lula e Renan Calheiros. Parece uma exibição dos que deram a volta por cima, uma comemoração dos que escaparam na Justiça pelos malfeitos apurados pela Operação Lava Jato.
Renan levou a tiracolo o governador de Alagoas, Renan Filho, que o pai sonha em ser vice na chapa presidencial encabeçada por Lula. Depois do seu envolvimento em uma penca de escândalos, empacados na Justiça, Renan acredita ter politicamente ressuscitado por sua atuação como relator na CPI da Pandemia, em que foi apurado e denunciado um monte de crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro. Nada a ver um coisa com a outra.
O fiasco da presidência de Bolsonaro, que se preocupa mais em salvar o seu clã das rachadinhas e outros malfeitos, e a atender a sua bolha na extrema direita, do que em governar, ressuscitou Lula. Nem há como compará-los. Bolsonaro é o pior presidente da República em todos os tempos, põe até Fernando Collor no chinelo.
Na mesma balada, puxada pelo ministro Gilmar Mendes, em que a corrupção política apurada pela Lava Jato virou farelo, Lula saiu livre, leve e solto dos escândalos do sítio de Atibaia, do Triplex do Guarujá, e das tais palestras pra Odebrecht etc. Em sua narrativa, reproduzida por seus devotos, ele foi inocentado de todas essas acusações ‘criminosamente inventadas por Sérgio Moro`. Pura cascata. Em um efeito dominó pelo drible no STF, os processos estão sendo arquivados por prescrição, recurso histórico de quem tem grana para bancar bons advogados. Filme velho.
Lula, Renan e uma penca de aliados e ate de outros eventuais adversários flagrados pela Lava Jato querem virar o disco. Todos eles, com a passagem de borracha nos indícios e provas que todo o país viu, dizem agora que foram vítimas. Por essa esdruxula narrativa, os investigadores que descobriram as bilionárias falcatruas são os criminosos. No topo dessa quadrilha de policiais federais, auditores da Receita Federal, procuradores da República, juízes federais, estaria Sérgio Moro.
Essa sandice é reproduzida todo dia pelos flagrados em crimes de corrupção. O advogado Antônio Carlos Almeida Castro, o Kakay, o maior defensor de políticos corruptos políticos no país, posta dia sim e outro também em suas redes que Sérgio Moro é bandido. Seus clientes, com as maiores folhas corridas da história política, seriam vítimas de um punitivismo que ele diz ser exacerbado e criminoso. Menos, Kakay.
Se houve erros e exageros, puna-se. Investigadores e juízes não podem ser uma casta acima da lei, inclusive ministros do STJ e do Supremo Tribunal Federal. Alguns, aliás, com pose de semideuses, que ficam ofendidos com qualquer fiscalização sobre seus rendimentos, prática normal, às vezes até abusiva, com todos os demais contribuintes.
Mas o que é e sempre foi exacerbado nesse país é a impunidade. A regra histórica é que quem tem poder e grana não vai em cana. Há algumas exceções que, como sempre, confirmam a regra. São raras.
Depois que Sérgio Moro entrou no páreo presidencial, seu trabalho privado na consultoria americana Alvarez & Marsal entrou na berlinda. O ministro Bruno Dantas, do TCU, abriu uma investigação e o deputado Paulo Teixeira, do PT, propôs uma CPI. As tropas petistas e bolsonaristas nas redes sociais fizeram a festa. Da cassação da eventual candidatura de Moro a sua prisão rolou de tudo.
A CPI murchou quando o PT entendeu que, trazer a Lava Jato para a campanha eleitoral, seria um tiro no pé. Nessa segunda-feira, o subprocurador geral Lucas Rocha Furtado pediu ao TCU para arquivar a investigação sobre o contrato que ele mesmo havia pedido. A decisão está nas mãos do ministro Bruno Dantas, indicado por Renan Calheiros para o TCU.
Ninguém apaga sua história e vira herói da nada. Querer brigar com Moro no quesito corrupção, especialmente pra quem tem o rabo preso, é tudo o que ele quer.
A conferir.