O dia C, de Cunha, começou tenso para os aliados do ex-presidente da Câmara. A maioria já percebeu, pela intensa campanha da mídia e dos defensores da cassação do deputado, que votar contra ou não comparecer hoje será um tiro no pé. As listas dos ausentes e dos votos contrários vão circular Brasil afora. Nesses tempos de redes na Internet, ninguém escapa. Mas Eduardo Cunha, por carta, telefone e entrevista, passou o fim de semana em Brasília pressionando os colegas.
Ao dizer hoje, em entrevista na Folha de S.Paulo, que os que vão julgar devem se lembrar que também serão julgados, Cunha abriu o jogo e botou a carta da Lava Jato na mesa. Afinal, mais de cem companheiros poderão acabar enrolados no caso. Em tese, sujeitos ao mesmo destino que Cunha poderá ter hoje. Nas conversas e em seu discurso hoje à noite, o argumento principal do deputado, que sabe muito sobre muita gente, será o “eu sou você amanhã”.
É pouco provável que Eduardo Cunha consiga aterrorizar um número suficiente de colegas para salvar sua cabeça. Há uma outra narrativa, esta correndo nas profundezas das articulações políticas, que os aconselha a liquidar o assunto com rapidez, já nesta segunda, e voltar para as campanhas em seus estados. Na calma que se seguirá à provável cassação do ex-presidente da Câmara, serão dados os alinhavos finais na proposta que vai passar a régua na Lava Jato, que já está sendo chamada de “anistia” para os demais parlamentares envolvidos.
O projeto, que deve caminhar em paralelo à reforma política e às medidas anticorrupção, criminaliza e estabelece dura punição para o caixa 2 – mas apenas daqui para frente. Ou seja, quem cometeu o delito antes da vigência da nova lei escapará com punições brandas e uma boa desculpa para transformar em caixa 2 atos que poderiam ser enquadrados como corrupção.
Essa solução está sendo articulada por cabeças importantes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, e corporifica o tal “acordão” que muita gente esperava no fim da Lava Jato, depois de entregues algumas cabeças importante: Dilma Rousseff, que sofreu impeachment; o ex-presidente Lula, no centro do alvo da Lava Jato; e agora Cunha, a terceira cabeça. Pode dar certo, pode não dar. A única certeza é que, depois da guilhotina, o ex-presidente da Câmara se transformará numa mula sem-cabeça para assombrar os personagens que ainda estiverem vivos.