Agressão de petistas a Ciro Gomes na Paulista é tiro no pé do Lula

Depois de tantas decepções e varinhas mágicas, segue a loteria pelo grande prêmio Brasil. Quem dera o povo não se decepcione outra vez.

Ciro Gomes discursa na manifestação das oposições em São Paulo - Fotos Repdodução Redes Soccias

Não é só o presidente Jair Bolsonaro que, por medo, estreiteza e cegueira políticas, segue metendo os pés pelas mãos. Esse pavor com a derrocada de seus devaneios e a exposição cada vez mais perigosa dos malfeitos de seu clã, que o tiram do prumo, é um trunfo para qualquer adversário. Caiu no colo, por exemplo, do ex-presidente Lula, que aparenta ter engolido raiva e remorsos, e continua construindo pontes com todos antigos aliados, mesmo os que antes o abandonaram quando caiu em desgraça.

 

Ciro chega ao comício da Paulsita

O lulinha paz e amor foi uma bem sucedida invenção do Duda Mendonça. Ele explorou com sucesso o talento de sedução de Lula, que sempre cativou os mais diversos interlocutores, e o embrulhou com todo cuidado em seu imenso carisma. O que isso produziu de sucesso e fracasso já faz parte da nossa história.

Lula preso em Curitiba

A ascensão, o apogeu e a queda de Lula estão contabilizados em todas as equações políticas. Com a providencial varinha mágica do STF pelas mãos de Gilmar Mendes, que fez sumir tudo o que o país atônito descobriu sobre os malfeitos de petistas com seus aliados e os políticos venais de sempre houve uma espécie de ressurreição de Lula, alimentada pela desastrosa e criminosa gestão de Bolsonaro.

A volta de Lula ao jogo, com acenos aos antigos aliados do MDB e do Centrão — a nata da velha política que Bolsonaro nem às custas de fortunas dos cofres públicos consegue seduzir –, apesar de todos os receios, parecia um passeio. Houve até quem previu uma segunda carta ao povo brasileiro que, como a primeira, destinada ao mundo financeiro que é quem dá as cartas no establishment econômico. O que até hoje esperam eleitores que votaram e se decepcionaram com Lula é pelo menos uma mísera autocrítica.

O problema é que vinte anos depois a prosa que encantou as eleições de 2002 não tem o mesmo encanto. Por mais que a foto nas pesquisas um ano antes das eleições estimule otimismo, não é jogo jogado. Como dizia o mestre Didi, inventor da Folha Seca e maestro da nossa primeira Copa do Mundo em 1958, treino é treino; jogo é jogo. Foi por esse erro de avaliação que o time de Lula fez um gol contra no sábado (2) na Avenida Paulista.

João Dória e Sérgio Moro – Foto Luis Blanco

Para uma expressiva parcela da sociedade, o horror a Bolsonaro vinha amenizando a ojeriza aos malfeitos petistas. Por mais desagradável, se não aparecesse nada mais palatável, Lula poderia virar opção. É um povo com cara variada que torce por um nome alternativo. Divide-se entre diversas opções, tais como os tucanos Eduardo Leite e João Doria, Sérgio Moro, Mandetta, Datena, entre outros. Correndo por fora, Ciro Gomes, orientado pelo brilhante marqueteiro João Santana, tenta se distinguir e, ao mesmo tempo, ser um elo entre todos que se opõem a Bolsonaro.

Por seu pavio curto, parece uma missão impossível. Mas, nessa onda de protestos, supostos apoiadores de Lula estão dando uma forcinha pra Ciro. No protesto contra Bolsonaro puxado pela esquerda nesse sábado (2) na Avenida Paulista, no alto do trio elétrico em que as lideranças do movimento discursaram, Ciro Gomes foi vaiado e xingado enquanto manifestantes gritavam por Lula, que sequer compareceu ao evento. Na saída, atacaram o carro de Ciro, defendido por seus apoiadores.

Ciro e Boulos na Paulista – Fotos Reprodução Redes Sociais

É o tipo de erro que estimula a desconfiança contra Lula e, por mais paradoxal, abre espaço para Ciro Gomes e outros que entrarem no embate. Ciro faturou em entrevista à imprensa nesse domingo (3): “Quando eu aceitei o convite do MBL, eu não superei as diferenças insuperáveis que tenho com MBL e nem, acabado o ato, fomos tomar cerveja. Também as minhas diferenças com o PT são cada vez mais profundas e insuperáveis, mas o que eu estou propondo, para toda a militância nossa, é não dar valor a esses incidentes, que são desagradáveis, mas são irrelevantes à luz da gravíssima hora que o Brasil está pedindo de todos nós: serenidade, equilíbrio e foco.”

Seguiu do mesmo diapasão: “Estamos propondo uma amplíssima trégua de Natal, como nas guerras. Quando o assunto for Bolsonaro e impeachment, a gente deve esquecer tudo e convergir para esse rasíssimo consenso, que já não é fácil”.

Pois é. Ciro entra no páreo com o mesmo slogan do “paz e amor” de Lula em 2002. Lula tenta manter o mesmo figurino, mas sua militância pode por tudo a perder. Ou a abrir caminho para outra alternativa.

A conferir.

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