Segundo turno, pra que te quero

O último levantamento do IPEC, o sucessor do Ibope que faz pesquisas presenciais, mostra que o ex-presidente Lula venceria as eleições presidenciais em primeiro turno se elas fossem hoje. No principal cenário, Lula chegaria a 48% na primeira rodada, contra 23% de Jair Bolsonaro e uma soma de intenções de voto do terceiro pelotão na qual nenhum deles tem, individualmente, mais de dois dígitos. Um passeio – mas que pode se transformar numa armadilha para o petista se não for bem administrado.

É claro que um resultado assim deve ser, antes de tudo, comemorado por Lula e seus aliados. Mas com muita discrição e sem a sombra da soberba do “já ganhou”, que faz muita gente amolecer, trabalhar menos e quebrar a cara na reta de chegada. Além de tudo aquilo que já estamos cansados de ouvir – que, a um ano da eleição, pesquisas são retratos do momento e não previsões confiáveis – , é preciso refletir sobre o significado de uma vitória em primeiro turno.

Por mais desejável que seja, a eleição no primeiro turno deixa o eleito mais longe da maioria que um segundo turno pode consolidar, mediante alianças com forças derrotadas no primeiro. Num segundo turno entre Lula e Bolsonaro, é possível que o petista consiga arrebanhar um amplo apoio, incluindo representantes do centro e até da centro-direita não-bolsonarista. Até Ciro Gomes, quem sabe, não irá para Paris.

Ciro “3a. Via” Gomes – Foto Orlando Brito

Num segundo turno assim, Lula ganharia não apenas a eleição, mas condições de governabilidade muito melhores do que as que teria se vencer do primeiro. O que, num cenário político conflagrado, que tende a ser tumultuado com mais tentativas golpistas de Jair Bolsonaro, pode ser importante para tomar posse e governar.

A um ano do pleito, as pesquisas são uma espécie de bússola, que aponta o norte mas estão longe de ser um GPS, que mostra todas as etapas do caminho. Irão, certamente, facilitar alianças em torno de Lula , sobretudo ao centro, acelerando movimentos que só ocorreriam no ano que vem. Vão encorajar setores do establishment, sobretudo no plano econômico, a buscar conversas com o ex-presidente.

Mas muita água ainda vai rolar até lá. Como diziam os antigos, é importante esperar o melhor, mas se preparar para o pior. Ou seja, não correr o risco de apostar numa vitória fácil de primeiro turno e, se der segundo, chegar lá com aura de decepção e risco de derrota.

 

 

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