A manifestação deste 7 de setembro, pelo menos na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, não foi tão pequena quanto esperavam as pessoas com um mínimo de discernimento, nem tão grande quanto desejava Bolsonaro e sua trupe. Algumas questões, no entanto, chamaram atenção. A primeira delas foi a incoerência dos manifestantes e da própria manifestação. Na convocação que fez à população, o argumento usado era o de que o presidente estaria “lutando pela nossa liberdade”.
Para os manifestantes que ocuparam a Esplanada dos Ministérios o ministro Alexandre de Moraes, do STF, está cerceando a liberdade dos brasileiros, por ter trancafiado na prisão alguns bolsonaristas malucos, entre os quais o ex-deputado Roberto Jefferson, que gravava vídeos estimulando a violência e o desrespeito à Constituição Federal de arma em punho. Prisões que Bolsonaro classificou como políticas. O que não é verdade.
Em resposta às decisões do ministro, muitos levaram faixas e cartazes pedindo intervenção militar e a destituição de Alexandre de Moraes, mesmo sem citar seu nome. Um movimento que diz defender a liberdade não se coaduna com pedidos de intervenção militar, fechamento do Congresso e do Supremo. Ditadura e liberdade não se misturam, são como água e óleo. Não existe coerência, falta conexão. A democracia pressupõe o respeito à Constituição e às leis.
Ao externar publicamente esse tipo de desejo alegando defender a liberdade, os manifestantes mostraram que ou estão mal-intencionados, defendendo apenas os próprios interesses, ou são apenas devotos que querem reafirmar a devoção cega ao “mito”.
Na verdade, quem esteve na manifestação deste 7 de setembro, não lutou por liberdade, apenas atestou sua mais completa ignorância política. Afinal, a democracia por pior que seja ainda é muito melhor que a melhor das ditaduras, seja civil ou militar. Qualquer cidadão que idolatre político, seja de direita ou esquerda, demonstra não ter o mínimo senso crítico. E mais, total desconhecimento do seu papel na sociedade.
O outro ponto a ser observado foi o discurso dúbio de Bolsonaro. Ao mesmo tempo que afirmava “não aceitar que qualquer autoridade usando a força do Poder passe por cima da Constituição”, fez uma clara ameaça ao Supremo Tribunal Federal, quando disse: “Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos três Poderes continue barbarizando nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil. Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder vai sofrer aquilo que não queremos”.
Esse morde e assopra de Bolsonaro é conhecido. Confrontado, ele diz que defende a liberdade, a democracia e a Constituição, ao mesmo tempo incita os seus seguidores a criarem tumultos e brigas se vitimizando e jogando a responsabilidade pelas suas irresponsabilidades em terceiros.
A manifestação na Avenida Paulista no fim da tarde deve mostrar de fato o tamanho do apoio a Bolsonaro. O fato é que no final quem vai vencer é o coronavírus e sua variante delta. Milhares de pessoas aglomeradas, sem máscaras e, como seguem o mito, muitas sequer devem ter se vacinado, logo os hospitais estarão lotados novamente e o número de mortos subindo.