O anúncio do PIB estagnado de – 0,1% no segundo trimestre coincide com a constatação de que o principal fator de desconforto dos brasileiros em relação ao governo, que nos últimos tempos era a pandemia, vai se deslocando claramente para a economia. Longe de representar um dado positivo para Jair Bolsonaro, o avanço da vacinação, que vem fazendo diminuir o número dos que consideram a Covid-19 o principal problema do país, deu espaço a uma forte preocupação com inflação, desemprego e pobreza.
Politicamente, vai deixando a reeleição de Bolsonaro cada vez mis distante, reduzindo o tempo e as chances para uma recuperação econômica que não vem – e que, se vier, dificilmente baterá no bolso da maior parte da população brasileira até a eleição.
Levantamento feito de forma presencial pela Genial/Quaest, divulgado nesta quarta-feira, mostra que, em apenas um mês, subiu de 62% para 68% o índice dos que acham que, no último ano, a economia piorou. Embora, para 28% das pessoas, a questão saúde/pandemia ainda esteja no topo da lista de problemas, o agregado dos que apontaram a economia e inflação como preocupações principais chega a 27%. Somado a outros 14% que apontam o desemprego como principal ponto de apreensão, esse percentual alcança 41% dos entrevistados.
A leitura política dessas percepções se traduz na baixa avaliação do governo Bolsonaro, que passou de 44% para 48% em apenas um mês, e no crescimento da distância entre ele e o ex-presidente Lula na corrida eleitoral. Segundo a Genial/Quaest, Lula pontua entre 44% e 47% nos diversos cenários de primeiro turno, enquanto Bolsonaro fica entre 25% e 26%. No segundo pelotão, quem melhor se coloca é Ciro Gomes, ainda assim sem chegar a dois dígitos (9%). João Dória fica entre 3% e 6%, enquanto o apresentador José Luiz Datena alcançar 7%.
Por enquanto, os demais nomes praticamente não existem, e o balde de água fria nos ânimos dos que apostam na chamada terceira via surge no quesito potencial de voto, que mede o conhecimento do eleitor a respeito de cada candidato e a possibilidade de votar nele: 57% conhecem e não votariam em João Doria, enquanto outros 53% não votariam em Ciro e 46% não votariam em Datena. No caso de Bolsonaro, essa rejeição chega a 62%, contra 40% de Lula.
A 13 meses da eleição, muitas águas ainda vão rolar. Não há garantias de que Lula, que bate todos as adversários num segundo turno, será eleito, ou que a reeleição de Bolsonaro está definitiva e irremediavelmente fora do horizonte, ou mesmo se alguém que represente a terceira via não poderá crescer. Mas vai se delineando o cenário no qual o eleitor fará a sua escolha e, nele, o fator economia, englobando inflação, emprego e miséria, será decisivo. Se o ingrediente apagão entrar nesse cardápio, então, Bolsonaro pode nem ir ao segundo turno.
Até agora, o governo não conseguiu botar de pé o seu Bolsa Família turbinado e nem outros planos eleitoreiros para amenizar a desaprovação presidencial. Pior, vê-se às voltas com uma deterioração de expectativas em relação à economia, enquanto a população sente a inflação aumentar , vai ter aumento na conta de luz e recorre cada vez mais à informalidade para ter algum tipo de trabalho. O impacto imediato desse cenário, e do movimento que o eleitor começa a fazer, será uma pressão redobrada da base política do governo, leia-se Centrão, sobre Bolsonaro e, sobretudo, sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes. Os próximos capítulos prometem emoções.