O capitão do retrocesso e sua infantaria de ogros destrambelhados não cansam dos reveses em suas campanhas obscurantistas e tiros varando os estandartes medievais. Depois de encurralado pela CPI, que enterrou o negacionismo da cloroquina, a imunidade de rebanho e eviscerou a corrupção de seu generalato, o estrategista do atraso sacou da farda maltrapilha um bacamarte empoeirado, recendendo a mofo: a cilada do voto impresso. Planejava travar outra batalha diversionista, espalhar muita fumaça na intenção de tumultuar. Apenas mais um estampido do marketing nazista de reiteração de mentiras para embaçar a CPI da Pandemia e abafar o fiasco da gestão, marcada por baixas sepulcrais: milhões de mortos na pandemia, desemprego, inflação, fome e um tombo histórico no ranking econômico.
O tiro, mais uma vez, saiu pela culatra. Na primeira batalha foi desmoralizado. A comissão especial da Câmara dos Deputados que analisava o voto impresso abateu a pretensão por 23 votos a 11. Mais que o dobro dos votos antediluvianos. A sentinela encarregada de vigiar a bandeira do capitão, o relator Filipe Barros, foi humilhada, mas a corneta obsoleta da quartelada não silenciou. O cavalariço Arthur Lira que comanda o acampamento de mercenários alimentados pelo orçamento paralelo, decidiu manter a bandeira do voto impresso hasteada e enfrentar uma segunda batalha no plenário da Câmara dos Deputados. Um estratagema esdrúxulo para quem já estava ferido de morte. O voto impresso é a patente dos coronéis, da fraude, da compra de eleitores e das milícias.
No plenário o vexame foi renovado. A PEC do retrocesso obteve 218 votos contrários e 229 votos favoráveis. Bolsonaro sofreu sua mais acachapante derrota em terreno aliado, já que vem subornando o parlamento com verbas do orçamento público, mas o apoio é minguado. As maiores baixas foram entre o PP, cujo presidente foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e no PL, que tem a ministra Flávia Arruda no governo. O saldo mostra que Bolsonaro ainda tem gordura para enfrentar pedidos de impeachment, mas não possui maioria na Câmara. Além do revés em uma bandeira crucial para ele, a evidente perda de controle político enxovalhou as Forças Armadas que, no dia da votação (10/08/2021), desfilou um punhado de cacarecos bélicos pela Esplanada, mais obsoletos e fuliginosos que Bolsonaro.
O capitão Bolsonaro foi expelido do Exército por ameaças terroristas e mentiras. Lança suspeitas improcedentes sobre fraudes eleitorais vinculadas ao voto eletrônico como uma metralhadora engripada. Nunca apresentou um mísero cartucho de prova, um rastilho pífio de irregularidade. Ele e seu pelotão doméstico, os numerais 01,02 e 03, ultrapassam um século de mandatos granjeados na urna eletrônica. Diante da Waterloo iminente e antevendo a derrota vexatória em 2022, o ícone do retrocesso, brande o voto impresso para tentar enfraquecer as instituições e ativar sua base desmiolada. O alvo recorrente é o Judiciário, incluindo o pelotão eleitoral do TSE, onde tramitam processos sensíveis contra a chapa eleita em 2018. É o front no qual ele mais levou tiros e, pelo jeito, seguirá sendo alvejado até tombar.
O voto impresso devolve o capitão ao seu tempo mental, das cruzadas. De armadura, elmo e lança guerreia, sem sucesso, contra a modernidade irrefreável. Após falar em fraudes eleitorais, Bolsonaro fez várias “lives” em que prometia apresentar provas sobre fragilidade das urnas eletrônicas. Nunca o fez, exatamente porque não tem. Como todas as notícias falsas que difunde irresponsavelmente, admitiu não ter provas das tolices que profere diariamente. Que Bolsonaro é ignorante até as pesquisas já captaram. Sua estupidez o atira em uma situação única de autoimolação. Sofre derrotas sucessivas no Judiciário e no Parlamento. A conflagração rotineira com os demais poderes acentua seu isolamento político. Nesse trote não vai longe.
Em meio à campanha de ataques a integrantes do Supremo Tribunal Federal, o Simão Bacamarte do Planalto perambulou por Santa Catarina. Lá participou da entrega da Ordem da Machadinha (nada a ver com rachadinha). Ao chegar ao local, Bolsonaro disparou contra o presidente do TSE: “O filho da puta ainda trai gente dessa maneira. Aquele filho da puta do Barroso”. O xingamento foi antecedido por ameaças a outro ministro que freia os relinchos autoritários e os coices xucros dos golpistas. “A hora dele vai chegar. Ministro arbitrário, ditatorial, que aplica a lei para agredir a democracia e para atingir os seus objetivos. Ele me colocou como réu naquele inquérito fake news. Ele é a mentira em pessoa dentro do STF”, excrementou o capitão ameaçando, desta vez, Alexandre de Moraes.
O vice-líder de Bolsonaro, deputado Otoni de Paula, foi condenado a indenizar o ministro Alexandre de Moraes depois de ofendê-lo com palavrões. Outros dois recrutas do destacamento foram para cadeia pela bazuca de Alexandre de Moraes: Roberto Jefferson e Daniel Silveira. “Quando o Bolsonaro decide uma coisa você vai lá ‘não, isso não pode’… Suprema Corte é o cacete. Na minha opinião, vocês já deveriam ter sido destituídos do posto de vocês e uma nova nomeação convocada e feita de 11 novos ministros. Vocês nunca mereceram estar aí. E vários que já passaram também não mereciam. Vocês são intragáveis, tá certo? Inaceitável. Intolerável, Fachin? Não é nenhum tipo de pressão sobre o Judiciário não. Porque o Judiciário tem feito uma sucessão de merda no Brasil. Uma sucessão de merda. E quando chega em cima, na Suprema Corte, vocês terminam de cagar a porra toda. É isso que vocês fazem. Vocês endossam a merda”, disse o bárbaro Silveira.
As escatologias, corriqueiras nas latrinas bolsonaristas, renderam prisão de aliados de Bolsonaro por duas vezes. A prisão do deputado troglodita foi imediatamente referendada pela unanimidade dos ministros do STF e endossada pela Câmara dos Deputados por 364 a 130 votos. Foi o primeiro teste na Câmara reagindo a pregações golpistas de aliados do capitão. Merece resgate as palavras do presidente da Corte, Luiz Fux, à época: “O STF mantém-se vigilante contra qualquer forma de hostilidade à instituição. Ofender autoridades, além dos limites permitidos pela liberdade de expressão que nós tanto consagramos, exige necessariamente uma pronta atuação da Corte”. O Brasil aguarda a “pronta atuação” quanto a Bolsonaro depois das agressões contra os Poderes e do desfile dos tanques enfumaçados, que virou chacota mundial.
Alexandre de Moraes esporeia impiedosamente as cavalgaduras bolsonaristas e levou o capitão para dentro das investigações sobre fake news, onde muitos recrutas dele já estão. A inclusão atendeu o TSE, que enviou notícia-crime contra Bolsonaro, pela divulgação de mentiras e vazamentos sigilosos. São, no mínimo, 11 crimes: calúnia, difamação, injúria, incitação ao crime, apologia ao crime ou criminoso, associação criminosa, denunciação caluniosa, tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito, fazer, em público, propaganda de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social, incitar à subversão da ordem política ou social, dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, de investigação administrativa, de inquérito civil ou ação de improbidade administrativa, atribuindo a alguém a prática de crime ou ato infracional de que o sabe inocente, com finalidade eleitoral.
A marcha golpista segue despudorada, caótica e escudada apenas por alguns eunucos da farda. Nas vadiagens pelo país, o bravateiro insistiu: “Vão quebrar a cara. Não continuem nos provocando, não queiram nos ameaçar”. “Não pensem o ladrão de nove dedos e seus amigos é que vão contar os votos dentro de uma sala secreta”, disse o capitão que tem na sua tropa soldados da índole dos presidiários Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson. “Lutaremos com todas as armas disponíveis”, continuou. “Venho advertindo que temos que ter eleições limpas no Brasil. Quem não quer eleições limpas e contagem pública de votos pode ser tudo, mas não é democrata, e quem não é democrata não tem espaço no nosso Brasil”, ruminou o falso democrata, objeto de caçoada nas ruas.
O ridículo desconhece limites: “Os que me acusam de não apresentar provas, eu devolvo a acusação. Apresente provas de que ele não é fraudável”, declarou Bolsonaro em determinado momento.” Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas”, disse incompreensivelmente, minutos depois. A lógica ilógica justifica a percepção que o brasileiro tem de que Bolsonaro. O levantamento do instituto Datafolha, do começo de julho/2021 revelou que a maioria dos entrevistados considera Bolsonaro “pouco inteligente”, “despreparado”, “incompetente”, “desonesto”, “falso”, “indeciso” e “autoritário”. Além disso, 55% dizem nunca confiar nas declarações do presidente e 70% acreditam que há corrupção no atual governo.
Depois dos surtos belicosos do capitão, atacando o sistema eleitoral e o Judiciário, o presidente do STF cancelou uma pretensa reunião entre os chefes de poderes. O convite para o encontro tinha sido anunciado em 12 de julho, quando Fux e Jair Bolsonaro se encontraram na sede do STF em meio aos constantes ataques do presidente ao sistema eleitoral e a ministros do Supremo. Sitiado e desnorteado, Bolsonaro passou a reiterar diariamente as críticas ao sistema eleitoral e aos ministros. Chegou a ameaçar agir fora dos limites da Constituição. Bolsonaro já fez mais de 20 bravatas semelhantes desde a metade de 2020. Nenhum Chefe de outro Poder compareceu ao desfile mambembe de blindados pela esplanada.
O mamulengo do centrão e do atraso, é uma figura patética, um alienado obcecado por um Estado para chamar de seu, como se refere impropriamente às Forças Armadas. O desvario absolutista de Bolsonaro o aproxima de Luís XIV, linhagem infame extinta na revolução iluminista que degolou a monarquia francesa e seus abusos desumanos e mortais: “Eu sou a lei, eu sou o Estado. O Estado sou eu”. A frase atribuída ao rei Luís XIV é a síntese do autoritarismo monárquico francês que Bolsonaro delira em poder reproduzir no Brasil quando afirmou: “eu sou a Constituição”. Terminará seus dias como todos os ditadores, czares, nazistas, déspotas e facínoras que reverencia: de maneira abjeta e, talvez, trágica.