Todo mundo está com medo de Dilma Rousseff. Reuniões de senadores da base e da oposição, dezenas de conversas, recados para lá e para cá sobre eventuais “provocações”, entra e sai no Alvorada animaram o domingo de Brasília, que, ainda assim, vai dormir apavorada com o discurso da presidente afastada amanhã no plenário do Senado.
Afinal, o que temem os governistas aliados de Michel Temer? Trata-se de uma presidente que, na prática, já foi destituída do cargo e não tem os votos suficientes para voltar. Pouca gente acredita que, diga o que disser, Dilma conseguirá reverter sua situação desfavorável. É uma presidente sozinha, que já perdeu o jogo.
Mas Dilma deu um nó na narrativa política e midiática do processo ao resolver aparecer no Senado. Ninguém esperava que ela tivesse a coragem de se apresentar ali, no ato final do espetáculo – transmitido ao vivo e documentado para o futuro – para disputar seu lugar na história, defendendo a própria biografia. É o que assusta muita gente, o tal lugar na história.
Daí porque, em seus recados, os senadores neogovernistas mandaram dizer que não vão tolerar que Dilma pronuncie a palavra golpe. Não querem essa palavra nos livros de história, nem muito menos na mídia internacional. Será que Dilma vai falar? Pode ser que sim, pode ser que não. É muito difícil prever o que fará alguém que não tem mais nada a perder.
É justamente o fato de Dilma, pessoalmente, não ter nada a perder que assusta também aliados e ex-aliados. Os do PMDB, por exemplo, já anunciaram que não vão fazer perguntas à presidente afastada. Não é um gesto de boa vontade, mas de puro medo. Ou será que algum deles, especialmente um ex-ministro dela, vai se arriscar a levar uma constrangedora resposta atravessada, lembrando os tempos passados?
Os receios alcançam o próprio PT, que nos últimos tempos puxou o tapete da proposta de plebiscito lançada por Dilma como última tentativa de salvação. É altamente improvável que a presidente afastada faça qualquer reclamação contra seu partido, mas, pelo sim, pelo não, os petistas estão cercando Dilma em seus últimos dias no cargo, ajudando-a a elaborar seu pronunciamento e cuidando de sua defesa. O próprio Lula chegou a Brasília neste domingo para uma última reunião. Não é só solidariedade.