O “Manifesto dos 500” enviado domingo, 21, ao presidente Jair Bolsonaro, chefes de poderes e outras altas autoridades lembra o “Documento dos Oito”, que um grupo de líderes empresariais eleitos mandou ao presidente Ernesto Geisel em 1978, exigindo sensibilidades do governo.
Ainda não há resposta ao “Manifesto”, mas o ‘Documento dos Oito” é considerado pelos historiadores como o ponto de inflexão da ditadura, quando os empresários desembarcaram do sistema de poder, então integrado pelo tripé empresários/tecnocratas/militares. O “Documento” foi levado em pessoa pelos signatários e entregue no sopé da rampa do Palácio do Planalto. Fez efeito: Geisel mandou o grupo entrar.
O “Manifesto” exige mudar o rumo do combate à pandemia; o “Documento”, exigia abertura política. Ambos são assinados por líderes proeminentes do mundo econômico. O “Manifesto” congrega megafiguras da política econômica, como os ex-ministros Pedro Malan, Marcílio Marques Moreira, Maílson da Nóbrega, Rubens Ricúpero; ex-presidentes do BC, como Armínio Fraga, Gustavo Loyola, dentre outros.
O “Documento” não reunia personalidades oficiais, mas um grupo de empresários eleitos pelo voto direto de mais de 40 mil pessoas que assinavam balanços de empresas de todo o país, coordenados pelo jornal Gazeta Mercantil, dirigido pelo jornalista Roberto Müller Filho, que tinha como assessores os professores da Universidade de Campinas Luiz Gonzaga Beluzzo, Pedro Malan e João Manuel Cardoso de Melo, secretariados pelo jovem economista Henry Phillipe Reichstul.
O grupo dos oito, que denominou o documento, tinha entre outros os empresários Antônio Ermírio de Moraes, Jorge Gerdau Johannpeter, Paulo Vellinho, Luís Eulálio de Bueno Vidigal, Cláudio Bardella, José Mindlin, Laerte Setúbal, Paulo Villares e Severo Gomes, apoiados por figuras de destaque, dentre as quais o banqueiro Olavo Setúbal, pai do banqueiro Roberto Setúbal, que desta feita assina o “Manifesto” junto com o sócio Pedro Moreira Salles, acompanhados por Fersen Lambranho, da GP Investimento, e Luís Stuhlberger, da Verde Assets, também do setor financeiro.
No “Documento”, o banqueiro Amador Aguiar, do Bradesco, e o minerador Trajano de Azevedo Antunes, da ICOMI, não assinaram (o grupo de eleitos era de 10). O “Documento” foi acatado pelo general artilheiro Ernesto Geisel; será o “Manifesto” pelo capitão artilheiro Jair Bolsonaro?