Tasso vice de Lula? Ciro reage com virulência

A canetada do juiz Edson Fachin, que liberou liminarmente o ex-presidente Lula para candidatar-se em 2022, moveu o quadro partidário eleitoral. Até uma união PT x PSDB está sendo cogitada

O ex-presidente Lula e o ex-governador Ciro Gomes, ambos postulantes à cadeira presidencial

O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, chutou o balde. Nos bastidores da política cearense especula-se que seria um recado indireto ao senador Tasso Jereissati (PSDB/CE) para não dar ouvidos ao canto da sereia do ex-presidente Lula da Silva. A entrevista queima pontes, fechando o vão onde o líder petista está procurando plantar tábuas de salvação. Tasso e Ciro, aliados de décadas que superam todas as divergências sem romper, estariam num ponto de inflexão. Daí a ferocidade da entrevista do pedetista no Estadão deste domingo.

Senador Tasso Jereissati, do Ceará, aliado de Ciro Gomes, pode ser o vice de Lula? – Foto: Orlando Brito

A “reentrée” inesperada de Lula, com a sentença do ministro Edson Fachin, do STF, atropelou todo o mundo para o lado na oposição. Estavam todas as forças procurando seus lugares, colocando-se no cenário, quando desaba um elefante, pois é tamanha a largura de Lula na política brasileira que ele empurrou gente de todas as cadeiras, indo da direita envergonhada (ex-eleitores de Bolsonaro) até a esquerda do Psol, pois Guilherme Boulos já está levando uns petelecos por conta de seus elogios ao ex-presidente. Os mais abalados foram os presidenciáveis.

O que deixou o ex-governador Ciro Gomes nervoso foram os rumores em torno da receptividade do ex-presidente FHC e do ex-ministro Delfim Netto, ícones da política paulista, dando boas-vindas ao metalúrgico, até abrindo seu voto, como foi o caso do czar da economia nos governos Costa e Silva, Médici e Figueiredo. Nesse botim, o senador tucano do Ceará ocuparia um lugar estratégico, como foi o caso do falecido vice-presidente José Alencar, na chapa de Lula nas suas duas eleições na primeira década do século.

Aliança estratégica 

Fora o defeito de não ser mineiro, para compor o café com leite, Tasso tem os mesmos atributos do ex-presidente da FIEMG: lançou-se na política como líder empresarial, venceu eleições majoritárias (foi governador e é senador) e comanda um conglomerado de grande porte, a rede de shopping centers Iguatemi, um magnata do comércio varejista. Se não é mineiro, é nordestino, um requisito tão valioso quanto aquele.

A empresária Luiza Trajano é cotada como candidata à vice-presidente numa chapa presidencial – Foto: Divulgação

Um outro atributo do cearense é sua longa trajetória eleitoral, ou seja, nada contra a velha política. Esse formato substitui uma outra proposta em voga, quase igual, de chamar para vice-presidente de Lula a empresária Luiza Trajano, dona da rede Magalu, também uma potencialidade assombrosa, pois tem 60 mil vendedoras sob seu comando, todas dispostas a captar votos para a patroa, diz-se. Entretanto, embora seja mulher, ela não tem o retrospecto político de Tasso. Um dos pontos seria a experiência política do companheiro de chapa de Lula.

As peças no tabuleiro 

Tem mais: para ceder a cabeça de chapa, os tucanos receberiam como compensação alianças em candidaturas a governos estaduais. Esse é o ponto: FHC declarou que o PSDB necessariamente não precisa ser cabeça de chapa em 2022. Noutra ponta, Lula disse que o PT pode apoiar aliados abrindo mão da hegemonia tradicional. Esta é a frente por onde os pedetistas estão temendo ver sua candidatura ser sugada como na descompressão de uma cabina de avião. Ciro abriu a boca.

Eduardo Leite é governador do Rio Grande do Sul, nome cogitado à Presidência da República

Uma base da credibilidade desses movimentos vem de que a notícia transpirou pelo Jornal do Comércio de Porto Alegre, o diário econômico da capital gaúcha, que é o reduto do governador Eduardo Leite, uma das principais peças nesse xadrez. Nesse tabuleiro, o PT entra com o rei, o candidato a presidente, o PSDB com as torres, que seria o apoio petista às reeleições dos dois postulantes tucanos que estavam em campo até a volta de Lula, o gaúcho Eduardo leite e o paulista João Dória Jr. Os dois desistiriam do Palácio do Planalto e, com apoio de Lula e seus seguidores, continuariam um no Morumbi e outro no Piratini por mais quatro anos, quando, então, o PT abriria para um tucano a liderança da chapa presidencial, após um mandato único de quatro anos.

Uma coligação poderosa. Lula teria de provar sua genialidade política, compondo os dois partidos, uma inimaginável reconciliação entre irmãos rompidos, pois os quadros fundadores de PT e PSDB foram gestados no ventre da mesma mãe, a sublegenda MDB-2 de São Paulo nas eleições de 1978. Aos 77 anos idade, Lula já passou do time dos ativistas para o quadro dos velhos sábios. A conferir.

Isso assusta porque o Rio Grande do Sul é uma das principais bases do PDT. Ou seja, os brizolistas estão vendo voar duas alternativas de poder: a candidatura de Ciro Gomes, que seria um candidato forte ao segundo turno para disputar a partida final com Bolsonaro, e o Palácio Piratini, onde o partido já ocupou tantas vezes a cadeira de Getúlio Vargas, a última com Alceu Collares, e que, atualmente, estaria com várias alternativas competitivas, dentre as quais a própria ex-presidente Dilma Rousseff, que voltaria ao partido que a lançou na política gaúcha como secretária de Fazenda da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

Tão surpreendente quanto a anulação dos processos de Lula, os primeiros passos do acordo PT/PSDB pegam todos de surpresa. Como partido mais forte do segmento da esquerda não-petista, o PDT reagiu com seu líder máximo soltando os cachorros sobre Lula, queimando pontes, atiçando rompimentos, procurando melar a Frente de Salvação Nacional (diz-se que Frente Ampla já é nome desgastado) antes que ganhe corpo.

A fala dura de Ciro surpreendeu e irritou petistas em todo o País, mas no Ceará foi mais abrangente, pois além de atingir Lula diretamente com palavras contundentes, de lançar suspeitas sobre toda a comunidade petista, no estado natal dos dois próceres o movimento aponta para um rompimento inconcebível, dada à histórica e emblemática convivência entre os dois líderes, que era um exemplo de civilidade política no Brasil.

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