Jair Bolsonaro, para fugir da responsabilidade pelo caos, reclamou hoje mais uma vez que o STF deu poderes demais aos estados e municípios. Nada de novo em ver o presidente, acuado, tirar o corpo fora dos estragos da pandemia. Todo mundo sabe que é um insensível, incapaz de ver a dor do outro, quase ao nível de uma psicopatia. Mas é preocupante ver, na boca de Bolsonaro, a expressão estado de sítio.
Ele se referiu a isso em relação ao que chamou de “superpoder” dado pelo Supremo às prefeituras, “poder que só no estado de sítio existe, e assim mesmo, não é decisão do presidente”. E emendou: “O presidente baixa um decreto e o Congresso, tem parlamentares aqui, é que vai dizer se vale ou não estado de sítio. Impuseram estado de sítio no Brasil via prefeituras. Isso está errado”.
Ao pronunciar ao menos três vezes o estado de sítio, Bolsonaro pode ter cometido um ato falho, mostrando num escape de linguagem o que vai lá no fundo de sua mente. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas o presidente voltou ao modo destemperado nos últimos dias, à medida em que a crise da pandemia se agrava, contrariando suas previsões e expondo cada vez mais a incompetência de seu governo.
Também hoje, ele mandou: “Tem muito idiota aí me mandando comprar vacina. Só se for na casa da sua mãe”. Palavras do presidente da República do Brasil, que vão ficar registradas para a posteridade.
Bolsonaro está acuado, e todo mundo se pergunta até onde ele pode ir, além do tom agressivo de suas falas. É improvável que ele tenha apoio para tomar atitudes mais drásticas, ainda mais se estiverem fora da cartilha do Estado Democrático de Direito, como a decretação de um intempestivo estado de sítio. Mas, de um lado e de outro da Praça dos Três Poderes, é bom que as instituições fiquem de olho.