O grupo dos discordantes do PT vai anunciar sua posição quando chegar a 25 deputados, algo como 45% da bancada de 52 cadeiras. O grupo já conta com 23, faltando dois para somar forças relevantes e fazer exigências para apoiar esta ou aquela candidatura a presidente da Câmara dos Deputados. São três posições nessa pauta mínima para a futura mesa: auxílio emergencial, impeachment do presidente Jair Bolsonaro e anistia para o ex-presidente Lula. Este grupo está procurando deixar claro, para o público interno, que não são rebeldes, nem mesmo dissidentes, mas apenas discordantes.
O grupo, apoiado ainda por outras bancadas da esquerda, tem como alternativa tática lançar uma candidatura alternativa que, se não pode vencer, terá o papel de levar a disputa para o segundo turno. Assim, terão demonstrando sua discordância com o acordão.
Marcar posição
Esta posição é minoritária e perdeu para a maioria nas internas do PT, mas continua com seu projeto de marcar posição, antes de seguir a orientação oficial do partido. Para isto, conta com dissidências em outras agremiações da minoria e com apoio fechado dos outros aliados: Psol, com 10 deputados, PCdoB, com sete, e Rede, com 1 voto. Um dos líderes da operação, o ex-presidente do PT e ex-deputado federal José Genoíno, confidenciou a amigos que pode chegar a mais de 100 descontentes de todos os partidos até a eleição, dia 2 de fevereiro, e assim incluir aquelas demandas no pacote. Ele também diz a estes interlocutores não cogitar algum tipo de apoio aos candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro.
No caso de a candidatura tida como independente, do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), aceitar estas ponderações, o grupo espera que estas exigências sejam colocadas em pauta, mesmo com alta possibilidade de rejeição pela maioria. É uma operação de alto risco político, pois se as três exigências têm alto apelo para a mídia, no final podem fortalecer o presidente da República. Seria isto que levou o atual presidente da Câmara a não abrir processo de impeachment, pois a derrota no plenário seria vitória para Jair Bolsonaro.
As três exigências
As três exigências oferecem, no entender da esquerda, um custo-benefício favorável, mesmo que não sejam aprovadas, o que é, até, considerado como resultado inevitável. O objetivo simbólico é demonstrar à Nação que a esquerda não está inerte.
O grupo diz saber que o auxílio emergencial, quando cair no bolso dos beneficiários, dará maior crédito ao Executivo, o pagador, que ao Legislativo, o idealizador. Isto já ocorreu, pois foi a Oposição que botou o recurso nos valores mais elevados, mas foi na conta da popularidade do presidente que o resultado político se configurou.
O mesmo balanço com a proposta de impeachment, que não terá o numero mínimo para admissão, mas, entretanto, pode ir para a mídia expondo as mazelas do governo. Da mesma forma, Bolsonaro pode alegar perseguição implacável e se colocar como vítima, ganhando pontos, tal qual ocorreu com outros presidentes que, no passado, foram alvo de propostas semelhantes.
Desde o presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) em diante, todos os demais (Getúlio, JK, Jango, Sarney, Collor, FHC, Lula e Dilma) no regime democrático tiveram pedidos de impeachment arquivados, inclusive os que caíram. Porém, Baleia Rossi teria de botar a proposta em votação, é o compromisso exigido pelos discordantes da esquerda para o emedebista ter seus votos e vencer no primeiro turno, sem risco de ser derrotado em traições tardias, caso não passe logo de saída. A oposição conta com isto.
Anistia para Lula
A terceira, mas não a última destas três exigências, é a mais complexa, pois se refere a condições legais para a candidatura de Lula em 2022. A Câmara dos Deputados não tem poderes para anular as sentenças judiciais que condenaram o ex-presidente e contornar a Lei da Ficha Limpa. Seria necessário o Parlamento votar uma anistia específica, para não o misturar num imbróglio legal, pois grande parte dos condenados na Lava Jato são réus confessos, diferentemente do ex-presidente, que nega todas as acusações e rebate com a parcialidade dos juízes e procuradores.
Por enquanto, o PT está operando com a possibilidade de anulação dos julgamentos, pelo STF, mas o passo legislativo não está descartado. A candidatura do ex-presidente, como nome de unidade nacional, está sendo trabalhada nas bases petistas e redutos aliados.
A proposta apresenta um cenário de reviravolta. Lula seria um dos dois vencedores no primeiro turno e se capacitaria para liderar a frente ampla que enfrentaria o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno. Esta colocação está sendo esgrimida pelo ex-ministro José Dirceu, adepto da frente ampla, que, ao contrário do senso comum, poderia ser liderada pelo ex-presidente.
Como alternativa, Dirceu, que se encontrava em Pernambuco no momento em que esta nota foi redigida, trabalha com a alternativa de um terceiro nome, do senador e ex-governador da Bahia, Jacques Wagner, admitindo o descarte do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que atualmente aparece como indicação de Lula para mais uma tentativa em 2022. O nome de Wagner na cabeça seria mais viável para negociar com forças antibolsonaristas que Haddad, tido como “poste” do ex-presidente. O senador, além disso, teria uma rota de recuo, candidatando-se para voltar ao Palácio Rio Branco. O tabuleiro do xadrez está com peças em movimento.