(Quantas mortes até lá?)
No início de novembro eu estava redigindo um artigo sobre o decréscimo no número mensal de óbitos causados pela Covid-19, mas os dados divulgados oficialmente começaram a falhar e eu resolvi esperar uma semana.
Ainda bem! Teria sido um vexame!
As projeções eram ótimas! Olhem os números de óbitos por mês:
abril 5.700 óbitos
maio 23.000 = +300%
junho 30.200 = + 31%
julho 32.000 = +6,0%
agosto 28.000 = – 14,3%
setembro 22.600 = – 19,3%
outubro 15.500 = – 32,5 %, totalizando 160.000.
O ritmo no final de outubro vinha nessa mesma faixa de -30%, fazendo crer que, mantido o mesmo comportamento dos últimos meses, novembro poderia fechar com cerca de 11.000 óbitos e dezembro com menos de 7.000, encerrando o ano em torno de 178.000 óbitos, em ritmo decrescente e média diária abaixo de 250, o que faria os índices de mortes por COVID ficassem abaixo dos de outras doenças comuns (Pneumonia 430, Septicemia 390, AVC 280, Infarto 260).
Mas nada disso aconteceu! Com a “flexibilização” do comportamento das pessoas, as aglomerações e o relaxamento, os índices pararam de cair, e, pior, começaram novamente a subir.
Novembro fechou com 13.200 óbitos, sendo que a segunda quinzena (7.322) foi 24% maior que a primeira quinzena (5.914) e dezembro vai fechar perto de 19.600, com um crescimento de incríveis 48% (!!) sobre novembro, fechando o ano com algo em torno de 193.000 óbitos.
Vamos fazer uma conta simples? O relaxamento matou 15.000 pessoas (193.000 – 178.000) que poderiam ter sobrevivido desde que o comportamento até outubro tivesse sido mantido!
E Janeiro e Fevereiro? No ritmo anterior, morreriam menos de 12.000 pessoas, mas no ritmo atual pode-se esperar otimistamente de 25.000 a 30.000 mortes (com alguma contenção nos comportamentos relaxados), significando outras 20.000 mortes a mais, totalmente sem sentido!
Mas, e a vacina? Parece que os grupos de risco e prioritários serão vacinados apenas em março/abril. Sabemos que 75% dos óbitos ocorrem com os com mais de 60 anos.
Quer medir a responsabilidades dos nossos governantes em uma conta macabra? Se 20.000 podem morrer em Jan/Fev e 75% teriam mais de 60 anos, então 15.000 idosos morrerão por absoluta incompetência dos nossos dirigentes em disponibilizar a vacina a partir do final de dezembro, o que mais de 40 países (entre os quais (México, Costa Rica, Chile e Argentina) conseguiram fazer, com a vacina da PFIZER, que nosso ministro da saúde descartou no seu plano inicial por conta das dificuldades de manutenção de temperatura, que, sabe-se agora, dezenas de laboratórios e universidades teriam condições de manter e fazendo com que o nosso país fosse para o final da fila na aquisição de doses.
Como a vacina (a maioria delas) precisa de duas doses e somente após a segunda a imunidade acontece, podemos esperar que somente em maio esse grupo prioritário esteja protegido, o que faz a conta devedora dos nossos governantes bater em 40.000 mortes evitáveis.
Os argumentos pela inoperância são toscos:
“Precisa de autorização da ANVISA!”. Claro, todos os outros países também tem suas ANVISAs;
“Precisa distribuir nacionalmente e o país é enorme!”, claro, EUA, Rússia, China, Europa também são e estão fazendo;
“Não temos dinheiro!”, tanto o ministro da fazenda quanto o presidente do banco central já declararam que é muito mais barato vacinar todos do que sustentar a economia claudicante.
A boa notícia é que centenas de vacinas estão em desenvolvimento, sendo que muitas delas já na fase 3 e, no segundo semestre muitas delas estarão disponíveis, a saber:
BionTech/Pfizer, Astra Zeneca, Coronavac, Janssen, Moderna, Novavax e Gamaleya (Russia), as mais conhecidas, além das Zhifei (China), Medicago (Canada), Anges (Japão), Sinopharm (China), Curevac (Alemanha), Covishield (India), Inovio (EUA), Covaxin (India) e muitas outras.
A má noticia é que vários países já garantiram a cobertura de 100% da população e nós aqui ainda estamos discutindo o assunto.
— Paulo Milet. Formado em Matemática pela UnB e pós graduado em adm. pública pela FGV RJ – Consultor e empresário nas áreas de Tecnologia, Gestão e EaD.