Não é só entre os pré-candidatos do PSDB a presidente da República — o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador Aécio Neves (MG) — que causou desconforto a declaração do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao jornal “O Estado de S.Paulo” segundo a qual o presidente em exercício da República, Michel Temer, será um forte candidato à reeleição se sua administração for um sucesso.
Receoso dos problemas que esta especulação pode criar, o presidente já até soltou nota negando uma possível candidatura. Mas, como disse Helena Chagas, aqui mesmo em Os Divergentes, Michel Temer pode ser candidato sim.
Até os estagiários do programa Jovem Aprendiz no Congresso sabem que, em política, o sucesso administrativo derruba qualquer negativa de candidatura.
Mas, como ia dizendo, além da encrenca com os tucanos, a declaração de Rodrigo Maia também deixou de orelha em pé possíveis candidatos a presidente que ocupam postos chaves no governo Temer. Principalmente dois deles: o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o ministro das Relações Exteriores, José Serra.
Meirelles sonha ser candidato pelo mesmo PMDB de Michel Temer. Serra, por sua vez, sabe que tem poucas chances de sair candidato pelo seu PSDB, hoje dominado por Alckmin e Aécio. Mas ele já abriu portas a uma futura filiação tanto ao PMDB como ao PSD de Gilberto Kassab, ou mesmo ao PPS, para sair candidato a presidente.
O último movimento de Serra em favor de sua candidatura foi comentado aqui por Helena Chagas e Andrei Meireles: o chanceler está por trás da chapa à Prefeitura de São Paulo, com Marta Suplicy (PMDB) chamando para vice seu um antigo desafato mas desde sempre aliado de Serra, o ex-tucano Andrea Matarazzo, hoje no PSD.
Na trilha de suas candidaturas, Serra e Meirelles já travam uma disputa surda dentro do governo em torno da política econômica.
O chanceler, que já foi ministro do Planejamento de Fernando Henrique Cardoso, aliou-se aos ministros palacianos na crítica aos riscos que uma política econômica excessivamente ortodoxa pode acarretar. Serra é contra a manutenção das taxas de juros em níveis tão elevados como tem sido defendido por Meirelles e o Banco Central.
Meirelles, por sua vez, tenta se blindar do assédio dos adversários dentro do governo com a nomeação de um ministro do Planejamento de sua inteira confiança — o atual, interino, foi apadrinhado pelo ex-ministro e senador Romero Jucá (PMDB-RR) –, ou mesmo pela incorporação da pasta ao Ministério da Fazenda.
Mas tanto o ministro da Fazenda como o chanceler agora viram que podem ser atropelados pela candidatura de ninguém mais, ninguém menos do que o seu chefe, Michel Temer. Só que, neste caso, não há o que fazer. O jeito é acreditar na nota de Temer desmentindo a candidatura e esperar pelo futuro.
Em tempo: vale lembrar que o próprio Serra já chegou a assinar um documento afirmando que não seria candidato a prefeito de São Paulo, mas acabou concorrendo. E venceu!