Não pergunte ao ex-ministro do Planejamento, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), o que ele acha do recuo do governo na votação da Câmara do projeto de renegociação das dívidas dos Estados. O governo havia proposto que também fossem proibidos reajustes dos funcionários estaduais nos próximos dois anos.
“Isso foi uma burrada. Se havia o limite do teto de gastos e os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal, para que incluir essa questão do funcionalismo? É claro que os estados não poderão reajustar se isso estourar o teto”, dizia Jucá.
Mas, se era burrada, por que o governo fez?
“Não sei. Fez porque eu não participei da discussão. Se participasse, não colocariam isso, que só faz parecer que o governo é fraco e tem que recuar”, respondia o senador.
Do outro lado do Congresso, quem esbravejava era o relator do projeto de renegociação, deputado Esperidião Amim (PP-PR), irritado com a versão do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que só insistiu na questão do funcionalismo porque sabia que os deputados iam querer mudar alguma coisa no projeto. Então ele colocou um bode na sala.
Aquela história do bode: o sujeito estava com a família em guerra, brigando muito, e o amigo o aconselhou a colocar um bode na sala. O bicho fedia e incomodava tanto que a situação ficou insuportável. Pois bem. Quando tiraram o bode, o alívio foi tão grande que a paz voltou a reinar.
“Bode nada. Participei de todas as negociações. O Meirelles acha que, se deixar, os governadores darão aumento aos funcionários e voltarão a estourar o teto. Eu que insisti para tirar, porque isso seria uma intromissão ilegal na autonomia dos Estados. Ia ser derrubada na Justiça.”
Jucá e Amin não estão sozinhos nas críticas a Meirelles. Têm o apoio do núcleo político do Palácio do Planalto. A proposta de Meirelles obrigou o governo a recuar e só fez a aprovação do acordo da negociação das dívidas estaduais, ao invés de uma vitória do governo, se transformar em meia derrota.