Passada a maioria dos discursos no plenário do Senado, na noite desta terça-feira, véspera da votação do processo de impeachment, os aliados da presidente da República afastada, Dilma Rousseff, já começavam a jogar a toalha.
Em meio a reclamações de que o governo teria mobilizado ministros e oferecido cargos para cabalar votos a favor do impeachment, os aliados de Dilma diziam que na segunda-feira ainda acreditavam na possibilidade de vitória. Mas que hoje, a situação mudou.
“Perdemos, por exemplo, toda a bancada do Maranhão”, reclamou um dos articuladores pró-Dilma referindo-se aos três votos da bancada do Estado no Senado.
De fato, durante uma reunião à tarde, Edison Lobão (PMDB), João Alberto (PMDB) e Roberto Rocha (PSB) fecharam questão a favor do impeachment.
“Subiram o preço demais. Não temos como tudo que cobram”, disse em tom de brincadeira uma das senadoras que foram encarregadas de buscar votos contra o impeachment. Ela disse, no entanto, não saber o que o governo ofereceu.
No Cafezinho do Senado, desanimada, a senadora apontava na mesa ao lado o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) sentado com seu colega de partido, o deputado licenciado pelo PPS-PE e atual ministro da Defesa, Raul Jungmann, e com o líder do partido na Câmara, Rubens Bueno (vide vídeo):
“Chegamos a ter esperanças com o Cristovam, mas ele já deixou claro que não vota com a gente.”
“Hoje a nossa contagem baixou para 20 votos. Vocês viram o discurso do Ivo Cassol (PP-RO)?”, apontava outro aliado de Dilma.
Para barrar o impeachment, Dilma precisaria ter o apoio de 28 senadores.
E Cassol era mais uma possibilidade de voto na contagem dos aliados de Dilma. Mas, em seu discurso, ele deu adeus à tese.
“A todo o povo brasileiro, ore ou reze pela presidente afastada. E ao mesmo tempo que Deus abençoe e ilumine o novo presidente”, declarou o senador do alto da tribuna.
Também o ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (PTB-AL) chegou a ser contado na listagem de possíveis votos contra o impeachment, ainda mais depois que se encontrou por duas vezes, nos últimos dias, com a presidente Dilma no Palácio da Alvorada.
Mas em seu discurso Collor, do alto da tribuna, desfiou reclamações contra a atuação do PT durante seu processo de impeachment e disse considerar que, de fato, a presidente Dilma cometeu crime de responsabilidade: “O governo afastado transformou sua gestão em uma tragédia anunciada”, sentenciou.