Michel tem mais a fazer aqui do que na China

Presidente Michel Temer. Foto Orlando Brito

Michel Temer acabou construindo uma armadilha para si mesmo ao usar a viagem para a reunião do G-20 na China – a necessidade de lá estar como presidente efetivo – como argumento para apressar a votação final do impeachment. Agora, com o atraso para amanhã da votação, à qual deve seguir uma solenidade de posse no Congresso e um pronunciamento à nação, está sendo aconselhado a desistir da viagem.

Mas reluta em fazer agora esse anúncio, que poderia ser interpretado como um sinal de preocupação do Planalto em relação a uma suposta perda de votos no plenário – o que, a rigor, não está acontecendo. Na terça, na quarta ou na quinta, o prognóstico favorável ao impeachment é o mesmo, e a razão para a permanência de Michel no país é uma obviedade: neste momento, há coisas mais importantes a fazer aqui do que na China.

Evidentemente, é importante comparecer a uma reunião das maiores economias do mundo, já como presidente efetivo, apresentando um programa econômico de ajustes e reformas que podem atrair os investimentos de volta para o Brasil. Faz parte do script obrigatório para recuperação da credibilidade do país no mercado internacional.

Não é mais importante, porém, do que estar aqui no dia seguinte ao processo pesado que é um impeachment, para anunciar medidas, falar à nação num pronunciamento bem elaborado, levar o orçamento de 2017 ao Congresso. Os últimos dias do julgamento não foram um passeio para Michel, alvo de duras críticas no discurso da presidente afastada Dilma Rousseff e de manifestações pequenas mas radicais nas ruas.

Talvez sua presença aqui, ocupando pela primeira vez em toda a plenitude aquela cadeira no terceiro andar do Planalto, seja mais vantajosa, tanto em termos de imagem quanto de realização concreta, do que a foto ao lado de Obama e outros lá na China.

Sem falar na possível perplexidade de uma parte da população, aquela que não fica acompanhando o dia-a-dia da política e não tem todas as informações à mão: ué, o Senado acabou de tirar a Dilma e quem assume no dia seguinte é o Rodrigo Maia?!

Michel Temer terá outras oportunidades de se apresentar no cenário internacional, e talvez faça melhor figura até se levar algo mais do que sua presença recém-legitimada pelo Senado. Com mais tempo, terá um discurso mais redondo e medidas mais concretas a apresentar. E nem vai precisar esperar muito. Na segunda quinzena de setembro, poderá se mostrar ao mundo em grande estilo, na tribuna das Nações Unidas, cuja assembléia anual cabe ao presidente do Brasil inaugurar.

 

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