Era uma sexta-feira antes do Dia dos Pais. No trânsito, congestionado na hora do rush, ouvia, para me distrair, os locutores de uma emissora de rádio reproduzirem o que os seus ouvintes apresentavam como as melhores memórias de seus pais, vivos ou não.
Além das trivialidades que se pode esperar como resposta a uma pergunta cabotina como esta, feita sob medida para a data criada pelo comércio, fiquei impressionado como tantas pessoas afirmavam ter recebido de seus pais o apoio incondicional a tudo que faziam em suas vidas. Ênfase no “incondicional” e no “tudo”.
Não vou aqui ingressar em uma rasa discussão sociológica sobre o fenômeno das novas gerações, tão sensíveis e tão ensimesmadas. Os chamados flocos de neve… Soaria a saudosismo. Prefiro lembrar que o meu pai, falecido há mais de 30 anos, com a rudeza e os valores morais de sua geração – que nasceu ao final de uma guerra mundial e chegou à juventude para assistir outra –, jamais me prometeu apoio incondicional para nada. A cada erro, eu era cobrado a avaliar o que não deu certo e como melhorar da próxima vez.
Nunca tive moleza na escola nem tapinha nas costas se aprontasse alguma (o que era raro…), mas sim alguns bons safanões. Sou grato a ele por isso. Fico feliz de ter, desde cedo, recebido a preciosa lição de que a vida é de altos e baixos, erros e acertos, e que sua função – ao lado da minha mãe – não era preparar a vida para os filhos, mas sim os filhos para a vida (na perfeita definição de um personagem de Fernando Sabino).
O que a gente vê hoje é um bocado de jovens desorientados porque não sabem o que fazer da vida. Mas, afinal, essa é uma situação corriqueira, natural, humana, esperada nessa fase da vida. Se acomodar com ela é que não é normal. Certos estavam os pais que não queriam ver seus filhos à toa, “encostados”, como se dizia.
Meu pai veio de uma família bem humilde. Tanto que nem chegou ao ensino médio antes de abandonar os estudos para trabalhar em fábrica. Seu grande investimento em mim foi, com sacrifício financeiro, garantir boas escolas, livros, enciclopédias. E, a mais importante lição, a do exemplo diário e silencioso: trabalho, respeito pelos outros e pelo que é dos outros, dedicação à família, solidariedade.