A volta do que não foi

Luciano Huck. Foto Facebook do apresentador

Luciano Huck vive um grande momento em família. Depois de corujar os 10 anos do filho Benício, dedica seu tempo extra para a esposa, Angélica, que está festejando inimagináveis 44 anos. No Instagram, homenageou a musa. “Está aí uma mulher que mudou minha vida. Meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste também. Em qualquer direção, minha parceira para qualquer história que nossas vidas nos desafiam. Mãe dos meus filhos, amor da minha vida”, escreveu. A paixão multidirecional de Huck não o fez esquecer, porém, outro encantamento: a política. Não tem uma semana que Huck, primeiro em artigo na Folha de S.Paulo, e depois em uma espécie de “carta ao povo brasileiro” – ou telespectador global, quem sabe – disse que não será candidato à Presidência da República em 2018. A carta, talvez um pouco pretensiosa, comparando-se a Ulisses em “A Odisseia”, o herói mítico amarrado ao mastro tentando escapar da sedução das sereias, não abriu margem para dúvidas e, favas contadas, fez tanto analistas como pré-candidatos passarem a remar num cenário sem Huck. O que faz toda a diferença.

Engana-se, porém, quem pensa que as sereias partiram num cardume sensual rumo ao alto mar e que Huck, solto do mastro, desceu da embarcação que poderia leva-lo ao Planalto Central e, lépido, reassumiu seu destino de apresentador do Caldeirão. Sereias tarimbadas, dessas que se tornaram conselheiras do Huck-Ulisses nos últimos meses, garantem que a jornada não terminou. Segundo esses encantadores de candidatos, Huck não largou a disputa de fato, apenas deixou o radar da mídia. Na visão compartilhada por alguns executivos e marqueteiros que teriam acalentado a candidatura, levando-o inclusive ao colo do PPS de Roberto Freire e Raul Jungmann, Huck deixou o porto cedo demais e já estava fritando sob o olhar irado de Data-Poseidon, o deus mítico das pesquisas eleitorais.

Roberto Freire. Foto: Orlando Brito

“A candidatura amadureceu cedo demais e corria o risco de apodrecer”, resumiu Roberto Freire, presidente nacional do PPS. O naufrágio se desenhava.Pré-campanha pra valer, sabem os marujos mais veteranos, só começa no ano que vem, com prazos relevantes entre abril, prazo limite para o candidato estar filiado a um partido, e julho, estertores das disputas internas e início das convenções partidárias.

A candidatura Huck, portanto, não virou pó, nem purpurina, nem enredo de novela. Foi adiada temporariamente. Entrou no armário. Está esperando a hora certa de ser relançada. Evidentemente, há um risco envolvido em qualquer recuo e o cenário em que Huck, qual Fênix, renascerá, dependerá de como andam seus potenciais adversários. A consolidação da candidatura do governador Geraldo Alckmin, do PSDB, já a partir de sua eleição para a presidência do partido, como provável candidato único no próximo dia 9, ocupa um dos vácuos da disputa. Há também o fator Bolsonaro, em plena reconstrução de imagem, e a incógnita Lula, que hoje depende mais, em sua sinuca político-judicial, de três desembargadores do que de 140 milhões de eleitores. O fato é que a Odisseia de Huck ainda não terminou. Só falta recolocar as sandálias.


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Jornalista e analista sênior de informações. Formou-se na Universidade de Brasília em 1987. Por mais de 20 anos, foi repórter, editor, correspondente e chefe de Sucursal em alguns dos principais veículos de comunicação do País: O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Istoé e Correio Braziliense. Trabalhou na FSB Comunicação, onde, por oito anos, foi diretor do núcleo de Mídia & Análise. É diretor de Atendimento da Santafé Ideias, no Rio, além de colaborador da Avenida Comunicação. Também é sócio-fundador da RMPJ e da Revista Tablado. Entre as premiações que recebeu estão o Prêmio Esso de Jornalismo, com a equipe de IstoÉ, e Menção Honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. É pai de Bruno e Gabriela.