O Capitão Jungmann e sua tropa de estereótipos

Ministro Junggmann e o general Braga Netto. Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Me impressiona no Rio de Janeiro, onde vejo (as pessoas) durante o dia clamarem contra a violência, contra o crime, e à noite financiarem esse mesmo crime pelo consumo de drogas”.
Raul Jungmann, em seu discurso de posse como ministro da Segurança Pública

Na falta de ações concretas, cortinas de fumaça. No mesmo dia em que o interventor federal do Rio, general Braga Netto, deixou claro, em uma coletiva sem lead, que ainda estão mais perdidos do que milico em tiroteio em favela – vale a leitura da análise do nosso divergente João Gabriel Alvarenga -, o novo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, decidiu repetir a surrada prática de jogar a culpa para cima do usuário. Se é evidente que não existe tráfico sem consumidor – portanto, alguma responsabilidade ele tem, de fato -, é igualmente real que a culpabilização da classe média, genericamente, pelo tráfico reforça estereótipos e dá munição para quem quer jogar tão duro com usuários quanto com traficantes armados.

Em seu discurso de posse no cargo, o coringa de Temer bateu na velha tecla: a classe média pede segurança, mas, ao mesmo tempo, consome as drogas ilícitas que financiam o crime organizado. Deu uma de Capitão Nascimento, o personagem da franquia “Tropa de Elite”, que, junto com seus comandados, passou a ideia distorcida de de que todo estudante com consciência social – o filme retratava a PUC do Rio – defende o tráfico. Jungmann foi além e colocou a conta na Zona Sul carioca. Deu voz a um discurso que, como se sabe, é comum entre reacionários em geral, mas que costuma ficar restrito às mesas dos bares e às pesquisas de opinião sem profundidade. Jungmann nada falou sobre os barões das drogas, esses que não vivem nem nos morros, nem nos condomínios – mas onde a inteligência policial parece longe de chegar.

O discurso do combate ao tráfico de drogas, faz tempo, gera esse apartheid dialético, sem nenhuma solução para a gravidade do problema. Foi que fez Jungmann. Sem conseguir apontar uma solução, ainda que distante, sorteou um culpado, triturando todos os clichês que conseguiu listar: “frouxidão dos costumes”, “ausência de valores”, “incapacidade de entender o que é lícito e ilícito”. Esse seria o perfil, para o Capitão Jungmann, do consumidor de drogas.

Sem que lhe fosse perguntado, Jungmann anunciou estar encerrando sua carreira política e suspendendo suas atribuições pelo PPS. Para, segundo ele, se dedicar integralmente ao ministério”. “Uma população vulnerável, encurralada, uma população indefesa é presa fácil da demagogia, do autoritarismo, do desrespeito”, disse Jungmann. Por falar em demagogia…

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