Toda eleição tem sua cota de nanicos. Por nanico, pelo menos na percepção que aqui se coloca, retire-se o teor de chacota. Use-se a definição eleitoral clássica. Candidato de partido pequeno ou de aluguel, sem nenhuma chance de se eleger, mas que assume a roupagem de elemento surpresa na campanha, atirando mais à direita ou mais à esquerda, dependendo de quem está na frente.
Alguns tem história, como Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), em 2010, e outros são apenas bobos, como José Alcides Marronzinho (PSP), em 1989, e Pastor Everaldo (PSC), em 2014. Nem seus poucos eleitores devem saber por onde andam. Ainda não está claro qual será o quadro final de candidatos a presidente na eleição de outubro de 2018. Mas, levando-se em conta quem já colocou a cabeça de fora, uma coisa é certa. Eles nunca foram tão charmosos. A começar dos divos da esquerda Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL) e do, digamos, muso do botox, o médico e celebridade Dr. Rey.
A candidatura de Dr. Rey, o “cirurgião das estrelas” é antes de tudo uma piada inocente, que serve, pelo menos, para contrapor a piada de mau gosto que é a candidatura do deputado-capitão Jair Bolsonaro. Alias, não catalogada como nanica porque nanico que é nanico não lidera nem intenção de voto. Rey, que se intitula a única voz da verdadeira direita, foi candidato a deputado federal pelo PSC em 2014, mas, não foi eleito – obteve pouco mais de 21 mil votos. E por onde sairá Dr. Rey agora? O médico brazuca afirma que será candidato pelo PRONA, mas para isso terá que ressuscitar o extinto partido de outro folclórico doutor, o cardiologista Enéas Carneiro, morto em 2007 – talvez o nanico-síntese da categoria, e certamente o mais involuntariamente engraçado desde a redemocratização.
Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, e Manuela D’Ávila, trazem um frescor ideológico à campanha, algo que partidos ranzinzas como o PCO, o Partido da Causa Operária, de Rui Costa Pimenta, e o PSTU, de Zé Maria de Almeida, não conseguiram em outras campanhas. Curiosamente – ou machismo mesmo -, Manuela, deputada estadual gaúcha, é acusada de contribuir para dividir a esquerda, enquanto a candidatura de Boulos é aplaudida e comentada até como um possível plano B, ou C (se o B for Ciro Gomes, do PDT), caso Lula não possa mesmo concorrer, barrado pela Ficha Limpa.
A concentração de nanicos é, obviamente, menor que no ápice de sua espécie, em 1989, quando 14 dos 21 candidatos lançados eram anões eleitorais, tendo somado incríveis 5,5% dos votos válidos no primeiro turno. Daí para frente foi só ladeira abaixo, gravitando em torno de 1% dos votos válidos. As mudanças impostas pela reforma política para as eleições de 2018 complicaram ainda mais as coisas. Partidos de menor estrutura têm considerado compor alianças de olho no pleito de 2022. Isso porque as novas regras podem colocar em risco o futuro das legendas nanicas. Para garantir acesso ao fundo eleitoral, de quase R$ 1,7 bilhão, e ao tempo de propaganda em tevês e rádios daqui a oito anos, as siglas terão de atingir um alcance específico de votos e candidatos eleitos.
Tem quem esnobe isso. Fundador do Partido Novo, o banqueiro João Amoêdo será o nanico mais rico desta campanha. Trabalhou no Citibank, BBA-Creditansalt, foi vice-presidente do Unibanco e membro do conselho de administração do Itaú-BBA. Atualmente é membro do Conselho de Administração da João Fortes. Na categoria nanico intelectual, inscrevia-se, com pompa e antipatia o economista Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES. Em tese, sairia pelo PSC, ao qual se filiou, já que Bolsonaro decolará pelo Patriotas. Nesta segunda, 04, porém, Paulo Rabello negou o interesse e ainda colocou a culpa na imprensa. “Não existe conversa alguma, zero de conversa”, encerrou.
Dois gatos pingados vindos de outras campanhas presidenciais também podem reaparecer – e, sim, isso é uma ameaça. Levy Fidélix, fundador do PRTB, famoso pelo bigode e por declarações homofóbicas, já disputou a Presidência duas vezes, mas nunca se elegeu sequer síndico do seu prédio. Já Eymael, líder do PSDC, dono do jingle mais sonolento das últimas eleições, quer disputar sua quinta campanha. Eymael já concorreu em 1998, 2006, 2010 e 2014, e, se ninguém o impedir, estará lá de novo no ano que vem.
Mais conhecido, o ex-tucano Álvaro Dias vai sair pelo Podemos, tendo como cabos eleitorais a dupla tetracampeã do Mundo, Romário e Bebeto, tão bem adaptados ao mundo político que largaram sem cerimônia os partidos pelos quais foram eleitos para se lançar na nova legenda. Outro nanico com história, que poderia ser candidato grande, é Cristóvam Buarque, senador pelo PPS.
Cristovam tirou licença do mandato para correr o país com uma espécie de anticandidatura à Presidência – por favor, não o comparem com Ulysses Guimarães ou com o General Euler Bentes -, mesmo sem saber se terá respaldo no partido. O PPS já cogitou apoio a João Doria e Luciano Huck para 2018. Termômetro do prestígio do ex-reitor da UnB redemocratizada, ex-governador do DF e ex-ministro da Educação de Lula, que chegou a disputar a Presidência pelo PDT em 2006, e ultimamente vinha apoiando até a cobrança de mensalidades em universidades públicas. Pensando bem, Cristovam não é nanico. Só encolheu sua biografia.