Vem crescendo no meio político, especialmente entre petistas e bolsonaristas, a tese do chamado voto útil. A ideia é encerrar a disputa dia 3 de outubro. Lula e Bolsonaro, os dois mais bem colocados nas pesquisas, apostam um na rejeição ao outro por parte dos eleitores. A campanha não é pelo voto a favor deste ou daquele candidato, mas contra a vitória do nome que tiver maior rejeição por parte dos eleitores.
Como a terceira via não se viabilizou, os dois lados brigam não apenas pelo voto dos indecisos, mas de quem pretende votar em algum dos nomes postos até agora na disputa eleitoral, concentrando ainda mais a polarização.
Pela esquerda, os petistas justificam a campanha pelo voto útil no ex-presidente Lula alegando que num eventual segundo turno, Bolsonaro pode conseguir reverter a diferença por ter a caneta nas mãos. Apostam no medo de muitos eleitores na reeleição de um candidato que vive criando conflito entre as instituições e ameaçando a democracia.
Claro que esse temor faz sentido. Afinal, desde que assumiu Bolsonaro deu vários sinais de que não respeita as instituições e que espera apenas uma oportunidade para dar um golpe.
Por outro lado, a turma do Planalto vem trabalhando duro para garantir que Bolsonaro permaneça por mais quatro anos no poder. As igrejas evangélicas têm doutrinado seus fiéis a votarem em Bolsonaro. Aproveitam a defesa das pautas de costume por parte do presidente para atacar Lula e o PT abertamente também usando o medo como argumento. Nos sermões, a ideia é deixar claro que sob o manto do atual governo a chamada “família tradicional” está protegida.
Bolsonaro tem usado as próprias armas do PT para contra-atacar. Enquanto artistas se mobilizavam para que os jovens entre 16 e 17 anos tirassem o título de eleitor vislumbrando o voto em Lula, pastores das igrejas evangélicas trabalhavam no mesmo sentido. Inclusive, regularizando os títulos de alguns fiéis mais velhos. A Igreja Mundial, por exemplo, chegou a colocar pessoas dentro dos templos para atender aos eleitores.
Outra fonte de preocupação dos petistas é com relação as falas polemicas do ex-presidente. Lula tem preocupado os próprios aliados com colocações que causam problemas desnecessários à candidatura dele. Semana passada, em entrevista à revista Time, ele afirmou que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, é tão culpado pela guerra quanto o Putin, presidente da Rússia. O que poderia ser uma pauta positiva, acabou se transformando em motivo de crítica.
O problema é que não foi a primeira e nem a segunda vez que Lula solta afirmações problemáticas para sua campanha. Essas derrapadas têm sido uma constante. E a grande questão que fica é se o ex-presidente está preparando para enfrentar os adversários nos tradicionais debates entre os candidatos.
Talvez a campanha pelo voto útil com base no medo acabe sendo mesmo um tiro no pé. Em entrevista ao Canal Livre, da Band, no último domingo, o candidato do PDT, Ciro Gomes, rebateu essa tese, que na sua avaliação é antidemocrática. Ele aposta que com o horário eleitoral gratuito e com os debates nas TVs abertas haverá mudanças nos números das pesquisas.
Ciro tem trabalhado para conseguir o apoio do PSD de Kassab à sua candidatura e acredita que com a possibilidade de vencer Bolsonaro no segundo turno, poderá atrair ainda mais apoio ao seu nome e se firmar como candidato da terceira via.
Para o pedetista, o grande problema do Brasil é justamente esse pensamento de votar contra o outro candidato sem pensar no futuro do país. “A polarização dos últimos anos fez com que os eleitores buscassem votar no menos pior e o resultado é esse que estamos vendo”, comentou.
Ciro tem toda razão. Não dá pra entregar o jogo já no primeiro turno, não é bom para a democracia.