Escrito por: Felipe Pena
Não foi o general que ameaçou o país na véspera da votação, não foi o general do twitter, não foi o general da chantagem enunciada nos telejornais.
O general que venceu a batalha no STF é mais velho, fala grego e fez carreira em Epiro e na Macedônia. Estava em Brasília, mas poderia estar na batalha de Ásculo, que também foi vencida por ele, apesar das enormes baixas em seu exército. Em Ásculo, o general Pirro soltou a famosa frase: “mais uma vitória como essa e estou perdido”.
Tem razão, general Pirro. Estamos perdidos. Sua vitória na batalha do STF representa muitas perdas para o Brasil, ainda que seus incautos soldados comemorem a prisão de um ex-presidente como troféu de guerra, butim, escalpo do inimigo.
Sua vitória, Pirro, é uma página rasgada da constituição, mesmo que possa ser revertida pelo próprio espinho que a rasgou, num espaço de tempo bem curto, para fazer justiça à famosa frase. Aliás, justiça se tornou palavra desbotada, sem sentido, substituída por ativismo político e fanatismo religioso.
Sua vitória, Pirro, é a vitória dos procuradores que fazem jejum em nome de Deus nos currais de um estado que deveria ser laico. É a vitória do juiz evangélico que o abraça com mesóclises, chamando-o de irmão em Cristo. É a vitória do magistrado que condena sem provas, cuja sentença não corresponde à denúncia, numa clara afronta ao código de processo penal. O mesmo magistrado que leva 22 minutos para emitir uma ordem de prisão, na ejaculação precoce de sua parcialidade.
Sua vitória, Pirro, é a derrota de todos os cidadãos, até daqueles que não percebem as consequências da quebra da ordem democrática em suas vidas. Perdemos a garantia constitucional da presunção da inocência, perdemos a isenção do judiciário e perdemos a autonomia dos três poderes, que é a base do estado de direito.
Você venceu, Pirro, mas, como diria o Darcy Ribeiro, detestaria estar ao seu lado. Sua vitória é a espuma de chuveiro da história.
* Felipe Pena é jornalista, escritor e professor da UFF.