É óbvio que tudo que um Presidente da República fala é importante.
Mesmo quando ele diz barbaridades.
É o caso do capitão, que adotou uma nova prática esse ano.
Ele não para mais, pela manhã, no chiqueiro do Alvorada, para conversar com o seu gado. Sua tática agora é utilizar a mídia bolsonarista, ou aquela que esteja sendo contemplada com verbas públicas, para dar entrevistas e declarações das mais estapafúrdias.
Assim, Bolsonaro encontrou o melhor dos mundos: fala o que quer, não é contestado, é entrevistado por jornalistas do baixo clero, e não precisa xingar nem dar patadas em jornalistas conhecidos: “Você é Folha, né?”, ou “isso daí só pode ser da Globo”… e por aí vai.
Na campanha de 2018, Bolsonaro usou e abusou da hipotética facada de Juiz de Fora, e de sua convalescença, para pedir votos. Obviamente o noticiário estava completamente desequilibrado, até que a Rede Globo ao noticiar o dia dos candidatos, decidiu dar o mesmo tempo para cada um dos competidores. Assim, o episódio da facada ficou circunscrito a um tempo equivalente aos demais candidatos.
A grande imprensa deveria dar um basta no capitão. Essa semana por exemplo, ele deu entrevistas para a Rádio Uirapuru Jaguaribana, de Limoeiro do Norte, no Ceará; para a Gazeta do Brasil, jornal digital bolsonarista que vende notícias e canecas com o slogan “Torço pelo Brasil”, e para a Rádio Sarandi, cidade do Rio Grande do Sul, com uma área pouco maior que a Barra da Tijuca. Só que na Barra vivem 400 mil pessoas, e a pequena Sarandi tem apenas 20 mil habitantes.
Por que não deixar ele falando apenas com os moradores de Sarandi ou de Limoeiro do Norte? Por que tratar suas declarações a esses veículos, como se ele estivesse falando da tribuna da ONU?
Falar para essa mídia, tem hoje mais repercussão do que quando ele falava com os Datenas e os Ratinhos da vida. É tudo o que ele deseja. Se ele anunciar algo verdadeiramente importante para a nação, obviamente a imprensa deve repercutir.
Mas xingamentos, palavrórios, dizer que o Covid é bem vindo, fazer campanha contra a vacina, e usar os veículos como palanque eleitoral deveriam ser ignoradas.
Se a imprensa não sabe como fazer isso, que consulte o Twitter, o Facebook e o YouTube. Essas plataformas já cortaram boa parte das asas do genocida.