Há males que vêm pra bem, dizia Jeca Tatu. A recusa dos titulares da Seleção Brasileira de Futebol de participarem da Copa América vai abrir espaço para os atletas que atuam no País de vestirem a camiseta canarinho. O mesmo vai ocorrer nos demais países da América do Sul, pois os jogadores que atuam na Europa e Ásia estão fazendo o mesmo: com a desculpa da pandemia, querem voltar imediatamente a seus clubes, concentrando-se nas eliminatórias da Copa do Mundo. Dilema: a Conmebol pode obrigar os “estrangeiros” a cumprir seu calendário? Grande risco.
O jogo Brasil x Equador é um exemplo gritante: na seleção equatoriana, nenhum jogador atuava no futebol de seu País; na seleção canarinho, contavam-se nos dedos de uma mão os “brasileiros”, vendo-se o festejado Gabigol perdido no ataque entre as “feras” do esporte bretão europeu.
Resumo da ópera: a Copa América vai ser disputada pelos atletas dos torneios regionais ainda em curso, como a Libertadores, a Sul-Americana e os campeonatos nacionais dos países. No Brasil e técnico emergente Roberto Gaúcho vai comandar o escrete. Como na Europa nos jogos de seleções, também aqui, essa copa vai oferecer às torcidas um reembaralhamento de seus craques, pois aqui como no Velho Mundo os grandes times têm jogadores de várias nacionalidades, titulares das seleções de seus países.
Os fanáticos telespectadores (pois não há público nesses jogos) vão torcer pelos ídolos que vestem as camisetas de seus clubes ou que migraram para países vizinhos. Ou não? Os torcedores vão recusar-se a ligar seus aparelhos? Não está clara a rejeição aos jogos.
Os cartolas não abrem mão, pois essa copa é uma das principais fontes de renda da Confederação Sul-Americana de Futebol. Certamente a entidade terá o apoio da Fifa, pois também a entidade mundial depende de seus campeonatos de seleções para arrecadar seus fundos milionários. Por seu lado, também os jogadores não podem se recusar a jogar pelas seleções sem apresentarem forte motivo esportivo, sob pena de serem punidos, perdendo direitos. E com a Fifa não se brinca. Melhor botar a culpa na peste, embora nos países em que atuam também haja pandemia e os jogos se realizem sem público.
Desculpa esfarrapada, mas justifica-se: porque os príncipes do futebol mundial deixariam de lado os brilhantes campeonatos europeus e asiáticos por uma competição obscura nos confins do mundo? O certo é que terão pleno apoio de seus colegas brasileiros, pois estarão abrindo vaga na seleção. O perigo é de nessa copa mambembe surgirem novos astros, outro técnico vindo da Serra Gaúcha, o colonião Portaluppi, que tome o lugar do sofisticado Tite. Como se diz nas arquibancadas: futebol é bola na rede.