Urnas eletrônicas

O que estarão maquinando os seguidores do candidato da situação para as eleições gerais programadas para outubro próximo?

A urna eletrônica, símbolo da democracia no Brasil - Foto: Nelson Jr. / ASICS / TSE

– “Vocês já sabem o que fazer” ! – diria o Comandante Supremo em uma de suas recentes aparições públicas.

Assim teria sido deflagrado o grande plano e a divulgação da tão esperada senha. O dia “D” e a hora “H” seriam oportunamente definidos pelo inesquecível diretor de logística.

Precisamente às 23h55 do dia 30/10/2022, na calada da noite, os insurretos sairiam às ruas, encapuzados, para a concretização da “grande missão patriótica” (GMP).

Sim, por ocasião do 2º turno das eleições presidenciais e apenas algumas horas após o encerramento da votação, os integrantes da GMP invadiriam todas as zonas eleitorais e carregariam, em suas próprias cabeças, as urnas eletrônicas, retirando-as do local,  não sem antes envolvê-las cuidadosamente em tecidos verde e amarelo, para o necessário disfarce.

Manifestação política com caminhões e carretas em Brasília – Foto: Orlando Brito

Do lado de fora, filas de caminhoneiros vindos de todas as partes do país estariam de prontidão, aguardando o carregamento da “muamba”. Emocionados, tal como estiveram no mês de setembro do ano precedente, quando comemoraram um fracassado golpe de estado, estariam agora confiantes. Patriotas incansáveis, seriam eles os encarregados da honrosa missão de levar as urnas eletrônicas para local incerto e não sabido. Abnegados, fariam esse enorme sacrifício em prol da Grande Nação, muito embora tivessem exigido o pagamento adiantado do diesel necessário para o sucesso da “operação”. Imaginaram-se heróis nacionais, com estátuas de bronze erigidas nas ruas das principais capitais do país.

À Turma das Panelas seria destinado o trabalho remanescente, ou melhor, as urnas remanescentes. Passariam a madrugada inteira destruindo, a paneladas, as urnas eletrônicas que eventualmente sobrassem nos rincões afastados, de difícil acesso.

Qual não foi a surpresa dos insurgentes quando, ao nascer do sol, os principais noticiários do país anunciaram o resultado das eleições presidenciais, com a previsível derrota do candidato da situação.

A bandeira do comunismo e seus conhecidos símbolos: a foice, o martelo e a estrela

Uma reunião emergencial foi marcada para a análise de conjuntura. Após horas de discussão, palavrões e insultos, chegaram a um consenso: a culpa teria sido da preposição. Malditas preposições comunistas!

Falava-se tanto, tanto e tanto, e todos os dias, no roubo nas urnas eletrônicas que tudo isso deu a entender aos organizadores da GMP que aquela era a frase ou a palavra de ordem. Cometeram apenas um erro: entenderam que a palavra de ordem era o roubo das urnas. E trataram de planejar a operação.

Mas ainda daria tempo de consertar o engano.

Vista geral dos juízes do Tribunal Internacional de Justiça em Haia – Foto: UN Photo / ICJ-CIJ

Utilizariam o roubo das urnas como prova cabal e inconteste do roubo nas urnas. Usariam a maldita preposição a seu favor. Afinal, como seria possível os jornais terem publicado o resultado das eleições se as urnas foram roubadas? Seria a prova inconteste e insofismável da fraude eleitoral. A prova que há tanto buscavam. Iriam aos Tribunais Superiores. À ONU, à Corte de Haia, se necessário.

Confiantes na vitória da Causa nos tribunais internacionais, tomariam antecipadamente o poder.

Já teriam até preparado o primeiro ato institucional a ser publicado pelo novo governo:

Artigo 1º : Fica declarado extinto o Ministério da Educação.

Artigo 2º : O uso da preposição fica definitivamente abolido da língua portuguesa.

Artigo 3º : Fica decretado o sigilo de cem anos das imagens relacionadas ao roubo das urnas eletrônicas e de seu esconderijo secreto.

Artigo 4º : Revogam-se as disposições em contrário

(ou seria ao contrário?)

Eliane de C. Costa Ribeiro é juíza do Trabalho aposentada 

 

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