Cansado de compromissos oficiais Bolsonaro chamou alguns integrantes da comitiva e resolveram promover uma incerta para aliviar o clima pesado da ONU, e se divertirem um pouco em Nova York. Com boa comida e as bebidas recomendáveis. Era um grupo de autoridades brasileiras, de ministros a presidente de entidade financeira. Ansiosos com a perspectiva de uma noitada na grande metrópole.
A celebração, contudo, começou mal. Entraram num restaurante chique da Rua 47 com Park Avenue, Cooking Dreams, que parecia bom e caro. Os aventureiros da noite ocuparam duas mesas centrais. O manager dirigiu-se ao grupo e informou, educadamente, que um de seus integrantes teria de se retirar do estabelecimento, por não ser vacinado contra o coronavírus. Tratava-se do presidente do Brasil, contrário aos tratamentos e rigores contra a pandemia.
Todos saíram com o presidente. Bolsonaro defende remédios contra o coronavírus condenados pela ciência, como a azitromicina e a hidroxicloroquina. E não usa a máscara facial. O FBI já havia comunicado à segurança brasileira que ele não poderia ficar em ambiente fechado e para não tentar burlar a proibição. Mas poderia, com os amigos, jantar em qualquer área externa ou calçada, informou um agente, neto de J. Edgar Hoover.
Dois quarteirões adiante havia uma pizza parlour atraente, com calçadão à frente. Todos se interessaram. A pizza nova-iorquina é excelente, palpitou o ministro da Justiça, Anderson Torres. É melhor pedir logo dois pedaços para cada, sugeriu. O problema era segurar com o guardanapinho de papel. Bolso mandou Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, não apenas pegar as pizzas no balcão como pagar todas, supondo que, pelo cargo, ele deveria ter muito dinheiro.
Os slices de pizza vinham acomodados numa caixa de papelão, e o presidente fominha pegou a primeira. Segurou mal e sujou a camisa com molho de tomate. Porra, que azar, reclamou. Mesmo quem não gostava de pizza comeu sorrindo para agradar o chefe, seja margherita ou pepperoni. Será que não estamos ridículos, quase no meio da rua com as mãos lambuzadas de ketchup, e rindo não sei de quê, suscitou o general Augusto Heleno, chefe da Segurança Institucional.
Porra, aqui todo mundo come na rua pizza, cheeseburger, o que quiser, afirmou o presidente com sua linguagem diplomática. E muitos preferem mesmo ficar do lado de fora, é mais agradável. Chato é ter de voltar lá dentro para pegar outra fatia, num guardanapo que não limpa nada, observou o ministro do Turismo, Gilson Machado, autor da ideia do convescote na calçada. Os ministros, sempre serviçais, disseram que o presidente teria demonstrado ao público sua simplicidade.
O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ficará mais dez dias em Nova Iorque porque foi descoberto com o vírus da covid, mesmo vacinado. Quinze dias em hotel de luxo, obedecendo ao isolamento. Bolsonaro o provocou. Eu não fiz tratamento, tive pequena crise, tomei remédios condenados como a hidroxicloroquina, não usei a frescura da máscara e estou em forma. Você tomou mil cuidados e se ferrou, seu Queiroga, provocou o presidente.
Você ficou num quartinho mixuruca do HFA, enquanto eu vou curtir dez dias em hotel 5 estrelas, onde se hospedaram Kennedy, Eisenhower e outros grandes homens. Tudo free, respondeu Queiroga, o homem do dedão. Fique bom, porque mais de dez dias você não passa aqui. Tenho novas responsabilidades para você no gabinete, disse Bolsonaro. O presidente tinha conversado com o Ministro da Defesa para reforçar a segurança presidencial.
O desempenho de Queiroga diante de protestos na rua, protegendo o chefe com a radical exibição do seu dedão direito encantou o grupo da pizza. Comunista tem medo de dedão, ainda mais com essa potência, frisou um dos ministros. Vai ser um sucesso no Brasil, imaginou o ministro do Turismo, o único então com a boca vazia. Pelo menos a viagem rendeu isso, comentou.
Combinou-se então o esquema de sustentação de Queiroga, o Ministro Dedão. O governo deixaria de encomenda na pizzaria vouchers para quatro fatias diárias, de sabores diferentes, entregues na suíte do hotel. E umas garrafinhas de red bull. Por conta do Paulo Guedes. Já fora criado um sinal de alarme na defesa do presidente: bastava exibir o dedão pecaminoso que os comunistas saíam em disparada. Esta foi a maior comitiva de um Chefe de Estado brasileiro na Assembleia da ONU: 1 presidente e 49 turistas.
— José Fonseca Filho é jornalista