A oito meses do fim do governo de Michel Temer, a última temporada de dança das cadeiras do Itamaraty foi definida com o cuidado de favorecer especialmente os diplomatas próximos ao presidente da República e ao chanceler Aloysio Nunes Ferreira, que decidiu não concorrer a mais um mandato no Senado e permanecer no posto até o fim do governo. As mudanças já estão circulando nos corredores da Casa de Rio Branco, mas a maioria delas ainda precisa ser confirmada pelos governos que receberão os novos embaixadores do Brasil.
Temer e Nunes Ferreira também tiveram o cuidado de não tocar nos dois postos mais importantes da diplomacia brasileira: Washington e Buenos Aires. Se protegeram seus colaboradores, pelo menos eles tiveram o bom senso de deixar ao futuro presidente brasileiro essas duas escolhas mais sensíveis. Não deixaram, porém, de ser ousados.
Nada alvoroça mais um diplomata do que duas palavrinhas: remoção e promoção. O meio do ano deverá decidir o destino da carreira de vários deles, quando sairá a lista dos que passarão pelo funil cada vez mais fino das promoções. As remoções de embaixadores agitam igualmente o Itamaraty porque promovem, inevitavelmente, transferências nos escalões inferiores. Em cada posto que chegam, os chefes tratam de atrair diplomatas com quem já trabalharam para as vagas existentes. Os embaixadores devem seguir a seus novos destinos entre o final deste semestre e dezembro.
Espécie de sombra de Temer desde os seus tempos como presidente da Câmara dos Deputados, o embaixador Pompeu Andreucci Neto, que atua com chefe do cerimonial e braço direito do presidente, foi designado para a embaixada do Brasil em Madri. De lá, o embaixador Antonio Simões, que muito contribuiu para a afinada relação do Brasil e com os vizinhos bolivarianos durante os governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff, seguirá para a embaixada em Montevidéu. Seu agrément foi concedido pelo governo uruguaio na semana passada.
Chefe de gabinete de Nunes Ferreira no Itamaraty, o embaixador Eduardo Saboya assumirá a embaixada em Tóquio. Saboya protagonizou uma ousada rebelião no Itamaraty, em 2013, ao planejar a fuga do ex-senador boliviano Roger Pinto da embaixada do Brasil em La Paz, onde estava asilado, e acompanhá-lo por terra até o Brasil. Saboya acabou suspenso da carreira, por determinação da então presidente Dilma Rousseff, que exigia a sua expulsão. Retornou ao Itamaraty com Nunes Ferreira, a quem assessorara na Comissão de Relações Exteriores do Senado e com quem trabalha atualmente como chefe de gabinete. De Tóquio, o embaixador André Correa do Lago se mudará para Nova Délhi. Tovar Nunes, atual embaixador do Brasil na Índia, seguirá para Moscou. Resgatado do ostracismo a que havia sido condenado pelos governos petistas desde a ascensão de Temer, o embaixador Marcos Caramuru deixará Pequim para seu colega Paulo Estivallet Mesquita, que hoje atua em Brasília como sub- secretário para América Latina e Caribe.
O porta-voz do Palácio do Planalto, Alexandre Parola, terá como destino Genebra, onde comandará representação do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC). Deixa este posto o embaixador Evandro Didonet, que seguirá para Berna, capital da Suíça. Marcos Galvão, secretário geral das Relações Exteriores, assumirá a representação do Brasil junto à União Europeia em um momento crucial de conclusão das negociações de livre comércio do bloco europeu com o Mercosul e/ou de início de adoção do acordo.
Já o assessor internacional de Temer, embaixador Frederico Arruda, terá a honra de apresentar suas credenciais à rainha Elizabeth 2a, em Londres. O veterano Eduardo Santos, que foi assessor internacional do então presidente Fernando Henrique Cardoso nos anos 90, seguirá de Londres para o Consulado do Brasil em Milão.
A troca de cadeiras também chegará a Viena, de onde partirá o embaixador Ricardo Neiva Tavares de volta a Brasília. Seu posto será ocupado pelo colega José Antonio Marcondes Carvalho, um especialista em negociações comerciais que se tornou o principal
negociador do Brasil no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. Gaúcho, como é conhecido na Casa, comanda há cinco anos a subsecretaria de Meio Ambiente, Energia e Tecnologia do Itamaraty.
Entre as mudanças já consolidadas está a ida do embaixador Carlos Márico Cozendey para Paris, onde chefiará a futura representação do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). A criação desse posto, no ano passado, indicou o compromisso formal do governo brasileiro em aderir à OCDE como membro pleno. A adesão, entretanto, ainda dependência da anuência de todos os sócios do organismo, em especial dos Estados Unidos. Nesta temporada de dança das cadeiras, Temer e Nunes Ferreira também acertaram a remoção de Rodrigo Baena Soares de Maputo, em Moçambique, para Lima, no Peru. Seu agrément sai há poucos dias.