O encontro de Lula com FHC está longe de significar uma aliança entre PT e PSDB. Até porque, hoje, FHC tem pouco poder de decisão na cúpula do seu partido. No entanto, o encontro tem forte simbolismo e pode influenciar o eleitorado histórico do PSDB e a classe média, principalmente de São Paulo. Lula tenta reviver o Lulinha Paz e Amor de 2002.
Não é uma tarefa difícil, pois a postura extremada do presidente Bolsonaro e de seus apoiadores e a metralhadora sempre ativa de Ciro Gomes ajudam a classificar Lula como um candidato moderado. A importância do ato da dupla pode ser medida pelas reações. Algumas delas dentro do PSDB, como a do prefeito tucano de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, no Twitter, acusando FHC de sofrer de “Síndrome de Estocolmo”.
Há um longo caminho até as eleições de 2022. Mas é preciso reconhecer que Lula tem feito movimentos certos para quem busca ser uma alternativa viável no próximo ano. A próxima eleição tende a ser, novamente, uma eleição do “anti”, e Bolsonaro pode vir a sofrer o mesmo efeito que o PT sofreu em 2018, o do “tudo menos ele”.
A pergunta que fica é: em que medida os não-bolsonaristas estarão dispostos a votar em Lula e os antipetistas repetirão seu voto em Bolsonaro? O que é certo é que muitas figuras políticas que ficaram omissas em 2018 ou que apoiaram Bolsonaro, como o governador de São Paulo, João Dória, terão muitas dificuldades para manterem a posição. Nisso, Lula ganha vantagem. O governador paulista, por exemplo, sofreu ataques de Bolsonaro em diversos níveis e recebeu do petista elogios públicos pela forma como enfrenta a pandemia no estado.
Nada disso, no entanto, permite concluir que Bolsonaro já é pré-derrotado nas eleições. O presidente tem a caneta na mão, e pode, por exemplo, recriar o auxílio emergencial, que influenciou positivamente sua popularidade em 2020. Uma melhora na condição econômica do país também pode impactar as eleições a favor do presidente. A pandemia pode não existir mais em 2022 e a melhora da economia tem sido divisor de águas para governantes que disputam a reeleição.
O que fica cada vez mais claro, pelos movimentos até agora, é que as chances de uma terceira via se reduzem cada vez mais e a cobrança para que personalidades do meio político se posicionem será cada vez mais forte. O jogo está apenas começando. Lula soma mais pontos na largada, mas o que importa, no entanto, é quem chegará em primeiro no final.