Muitos de minha geração já se foram, mas nenhum tão próximo a mim quanto esse sujeito fantástico que nos deixou na manhã de hoje, para tristeza de centenas de amigos e admiradores. De todos os meus amigos, era o mais antigo. Foram 51 anos de boa amizade com Orlando Péricles Brito de Oliveira, em que compartilhamos momentos profissionais e pessoais inesquecíveis.
Nos conhecemos em 1971, os dois na cobertura do insípido Carnaval brasiliense da época, na W3 Sul, ele de O Globo, eu do Correio Braziliense. Foi amor à primeira vista. Dias depois eu recebia uma ligação do então chefe de reportagem da sucursal de O Globo, Vicente Limongi Netto, com uma oferta de emprego. Daí em diante formamos uma dobradinha que impulsionou de vez nossas carreiras. Foram 11 anos de convívio, até o início dos anos 80, quando ambos tomamos novos rumos profissionais.
Ser padrinho do casamento de Brito com Lúcia aos vinte e poucos anos me encheu de alegria e fortaleceu ainda mais nossa amizade. Amizade amplamente desfrutada ao longo de mais de cinco décadas, primeiro nos domingos no Clube de Imprensa, nos campeonatos de futebol de salão entre redações, nos quais ele se destacava pelo chute poderoso, no convívio com meus familiares, nas noitadas regadas a muito gim nos bares da vida e, mais recentemente, nas festas de casamento de meus filhos Rafael e Rodrigo e nas “álcool-lives” comandadas por Ricardo Pedreira que nos ajudaram a suportar o confinamento imposto pela pandemia.
Também na vida profissional vivemos ótimos momentos. Alguns permanecem na minha memória. Em 1975, sobrevoamos juntos um bom pedaço da Amazônia, em um monomotor, de Belém a Tucuruí, no Pará, onde tinha início a construção da segunda maior usina hidrelétrica do país. Dessa aventura, com direito a uma grande enchente do Rio Tocantins que nos reteve em Tucuruí por vários dias e noites, ficou o registro fotográfico deste repórter simulando pilotar o tal aviãozinho. A foto está pendurada até hoje numa parede de minha casa.
Lembrei-me também dessa viagem, ontem, ao ver os brasileiros retornarem da Ucrânia no avião cargueiro da FAB, alojados em desconfortáveis assentos laterais. Pois era assim o velho DC-3 no qual retornamos a Belém, após concluída a reportagem sobre a hidrelétrica.
Curiosamente, o que hoje me vem à lembrança não são as grandes coberturas de economia ou de política que compartilhamos, e sim reportagens triviais como a que produzimos sobre a comunidade quilombola Mesquita, em Valparaíso de Goiás, onde tivemos que degustar uma marmelada das piores. Ou quando fizemos matéria sobre o jogo do Campeonato Candango assistido por apenas um torcedor. Como o jogo já tinha ficado no passado, Brito não teve dúvida: colocou um figurante no velho Estádio Rei Pelé completamente vazio. O figurante era meu irmão Victor, também amigo de Britinho e, assim como nós, vascaíno doente. O Globo publicou texto e foto.
Se isso serve de consolo, meu velho amigo foi poupado da tragédia do povo ucraniano e da desclassificação do Vasco na Copa do Brasil pelo poderoso Juazeirense, nono colocado no campeonato baiano. Nós continuamos aqui sofrendo.