A campanha presidencial, antecipadamente desencadeada com a precipitação de Bolsonaro, preocupado com a duplicação de seu mandato, ainda nada gerou de construtivo para o país. Pode até ser que continue assim. Até agora, basicamente, só há troca de ofensas e provocações entre os disputantes ao cargo, em nível ascendente. E o número de candidatos aumentou, com a chegada de Moro e da senadora Simone.
Breve terá início o espetáculo da campanha, apreciável ou não, algum tempo antes do prazo legal, devido à ânsia dos pretendentes ao cargo. Entrevistas à imprensa, manifestações em eventos partidários, acontecimentos de interesse político, social ou econômico, para candidatos convidados, vale tudo. Ou iniciativas de mero interesse promocional, com o objetivo de ampliar os contatos com os eleitores. Enquanto não começa o prazo oficial da propaganda.
De útil, importante mesmo, nada ainda foi apresentado ao digníssimo público eleitor sobre os maiores problemas do país. Nem chegaram a ser objeto de avaliações, de alguma forma criativa e esclarecedora. Embora não seja ainda a temporada legal, mesmo assim precioso tempo está sendo perdido. Os próprios candidatos poderiam começar a divulgar projetos e soluções para os maiores dramas do país. Deveriam já apresentar à sociedade propostas de seu eventual governo.
A imprensa e outros elementos de comunicação poderiam promover debates e entrevistas não se restringindo à exploração de animosidades. Os eleitores apreciariam saber que os grandes problemas do país estão sendo objeto de estudos e avaliações por parte de quem se arvora capacitado a governá-lo. É obrigação de qualquer candidato estar preparado para governar. Preparado mesmo, não só cuidar do falatório.
Quando o ambiente pré-eleitoral já se apresenta corroído, quase tanto quanto o país, é necessário dedicação e esforço generalizado de recuperação. A partir de projetos e temas elaborados por técnicos responsáveis e em bases realistas. Por enquanto a campanha precoce entre os pré-candidatos está igualada no mesmo baixo nível. Nenhum deles se destaca singularmente no debate sobre os grandes problemas nacionais. O mais boca-suja, como sempre, é Bolsonaro.
Assim o público chegará já meio decepcionado à hora de votar. Será que vale o sacrifício? O que surgirá da mente de um militar odiento, um jurista reservado, uma senadora novidade? Programas ou problemas? Não apenas veremos, como sentiremos. Surgiu algum grupo de trabalho entre os candidatos? Para levantar dados reais sobre o analfabetismo, a fome, a pobreza, a criminalidade, a doença, a corrupção e estar apto a agir depois da posse?
Juscelino Kubistshek, além da nova capital, assumiu o governo com um Programa de Metas estabelecendo 30 prioridades em 5 setores: energia, transporte, indústria, educação, alimentação. Cumpriu todas e algo mais: restabeleceu parte da esperança dos brasileiros. Isso porque ainda falta muito a fazer. E pouca paciência para esperar.
— José Fonseca Filho é Jornalista