Simone Tebet tem chance. Será?

Numa análise mais técnica que política, o autor avalia hipóteses em que Simone Tebet pode furar a bolha da polarização, atropelar Bolsonaro, e ir para o segundo turno com Lula

Senadora Simone Tebet - Foto Orlando Brito
O indeciso diante das toalhas coloridas de Lula, Bolsonaro, Scooby, do Flamengo e das notas de dólar e real – Foto Orlando Brito

A partir de recentes pesquisas publicadas pelo Datafolha, e também pelo IPESPE, a impressão que tive é que apenas a situação de Lula e Bolsonaro foi comentada pela imprensa, praticamente dando o jogo como quase finalizado em prol de Lula.
Mas, lendo as pesquisas com atenção e colocando no contexto desse momento, final de Maio, é possivel perceber que está existindo uma certa precipitação, que pode ou não se confirmar.

Me parece que a novidade concreta, ainda não assimilada, é a confirmação da candidata Simone Tebet pelo MDB, com ou sem o apoio do PSDB.

Primeiro, vamos analisar um pouco as possibilidades estatísticas reveladas pelas pesquisas.
Em uma leitura atenta, no Datafolha, um dado se destaca: A candidata tem a menor rejeição entre todos os candidatos (9%) e o maior desconhecimento da sua candidatura por parte dos eleitores (quem seria essa tal de Simone?) da ordem de 71%.

Fernando Henrique Cardoso – Foto Orlando Brito

Mas será que da tempo de mudar alguma coisa? Um exemplo real foi FHC em 94, que, em Junho, tinha 3%, e por conta do Plano Real, ganhou no primeiro turno, em outubro!
Isso quer dizer, que sim, tecnicamente é possível. Vários outros exemplos de viradas surpreendentes no ultimo mês estão aí pra mostrar isso.

Como todas as matérias que vi destacavam Lula e Bolsonaro, vou aqui focar mais na Tebet.
Para que ela tenha chance de entrar no segundo turno e disputar com (provavelmente ) Lula, teria que pelo menos passar de 20% (talvez chegando a 25%) dos votos válidos e impedir que Lula chegue a 50% no primeiro turno.

É impossivel? Não! É dificil? Sim, e demanda um bom trabalho.

Ela precisaria tirar 8 a 10 pontos de Bolsonaro, 8 a 10 de Lula e 3 a 7 dos não definidos, indecisos e dos outros candidatos.

Até agora, o que temos visto, é que tem gente votando em Lula pra tirar Bolsonaro e votando em Bolsonaro pra nao ter Lula de volta. Essa turma significa pelo menos uns 30 %. São os que dizem que podem mudar. Além desses, cerca de 12% ainda não se definiu.
Vamos ver mais alguns números da pesquisa IPESPE?

Jai Bolsonaro e Simone Tebet – Fotos Orlando Brito

Na simulação do segundo turno, Tebet perde para Bolsonaro por apenas 40 X 34, com 26% de não definidos. Esse resultado, sendo ela desconhecida por 38% dos eleitores, parece mostrar que, contra Bolsonaro, a virada no segundo turno virá em alguma próxima pesquisa.

Já em um segundo turno entre Lula e Tebet, Lula teria 57%. Parece ser um teto, já que tem 43% de rejeição. Além disso, cerca de um quarto desses não se mostra convicto em definitivo. 25% ainda não votaria em nenhum dos dois. Finalmente, Tebet teria já 18%, lembrando novamente que 38% a desconhecem.

Em um dos quadros, podemos ver a probabilidade de voto, onde Simone Tebet tem 5+ 23 + 38 (Votaria com certeza+poderia votar+ não conheço) = 66%. Ela só precisa confirmar metade desses que poderiam votar (11,5%) e + outros 10% daqueles que não a conhecem.Não é muito.

Visto até agora o lado da estatística, mostrando que tecnicamente é possível, vamos especular um pouco sobre o COMO?

Simone Tebet tem como mobilizar os eleitores para que acreditem que isso é possível? Sim. O fato de ser mulher e bastante atuante no congresso, ajuda bastante.

Médica e pesquisadora Margareth Dalcolmo – Foto Divulgação

Algum tempo na TV vai ajudar, mas, atualmente, a cada 2 anos, as eleições vão depender muito mais das redes sociais do que da TV e muito menos rádio. Se a candidata conseguir reunir um grupo respeitável de mulheres apoiadoras, influentes e respeitadas profissionalmente, um lote de milhões de seguidores apareceria rapidamente. Mulheres como, por exemplo: Margareth Dalcomo na Saude, Viviane Senna, Priscila Cruz, Claudia Costin, Maria Helena Castro na Educação, Elena Landau , Maria Silvia Bastos, na economia, Luiza Trajano na Indústria e comercio, Ivete Sangalo, Ana Maria Braga, Fernanda Montenegro no meio artístico e outras do mesmo potencial…

Doutor Drauzio Varella

Fora isso, claro que os homens não devem ser “abandonados”, economistas do porte de Persio Arida, Lara Resende, Pedro Malan, Armínio Fraga…, artistas como Luciano Huck, Mion e Bial, médicos como Drauzio Varela e Paulo Niemeyer, empresários como Jorge Leman, Jorge Gerdau (Se tiver a parceria de Tasso Jerressati, esse item seria ainda mais facil) e outros.

Os políticos convencionais que estão brigando nos estados agregam apenas alguns milhares. Essa turma citada agrega alguns milhões de potenciais eleitores, desde que, obviamente, tenham algum interesse em uma alternativa à dupla que está nos primeiros postos na disputa.

Se assim for, um grupo desse porte atrairia um lote ainda maior de influenciadores, chegando facilmente, no somatório, a mais de cem milhões de seguidores/influenciáveis, mesmo que com alguma redundância.

BBB 22 (Big Brother Brasil 2022) – Foto Reprodução/Globoplay

Vamos lembrar que recentemente no BBB, pessoas desconhecidas na entrada, saíram do programa 2 meses depois, com milhões de seguidores. Os que já eram conhecidos saíram com mais de 10 milhões cada. O mundo atualmente é “influenciado” prioritariamente pelas redes sociais.

Para fechar essa parte do COMO, perguntamos: Basta reunir o apoio de um grupo seleto de personalidades? Não! Tanto esse grupo, quanto os próprios eleitores tem que acreditar que o futuro será muito melhor com essa candidata.

O discurso tem que ser maior do que fazer o be-a-ba. Tem que ter um programa de governo desafiador, provocativo e motivador para o Pais e para os eleitores. A Candidata pode falar até em metas para 2030 que Bolsonaro não poderia e Lula talvez não tenha idade.

Diversidade

O que os candidatos estão falando sobre o mundo ESG (Ambiente, Social e Governança)? Qualquer empresário sabe o que é isso e o que está impactando nos negócios. E os 17 ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU para 2030? Aquilo ali é um programa de governo completo cobrindo praticamente todas as áreas de uma sociedade governo: Educação, Saúde, Trabalho, Meio ambiente, Cidades, Energia, Diversidade, Fome…

E a CONECTIVIDADE? Que tal uma meta de 100% dos brasileiros conectados com internet de qualidade até o final do mandato em 2026? Isso impacta Educação, Saúde, Habitação, Alimentação, Industria, Comércio, Serviços, Agro, Justiça, Governo e certamente EMPREGOS e SALÁRIOS!

Metaverso e criptomoedas

Ciência, Tecnologia, Inovação e consequentemente Educação, serão fundamentais. As tecnologias de Informação, Comunicação e Automação podem gerar saltos de produtividade, deixando nos museus os crescimentos de “apenas” 3% ou 4% ao ano para o país. Siglas e expressões como 5G, Web3.0, IoT, IA, RV/RA, Drones, Impressão 3D, Blockchain, Criptomoedas, Smart cities, NFTs, e finalmente Metaverso, serão palavras cada vez mais faladas e executadas podendo produzir resultados fantásticos para o Brasil.
Muitas profissões acabando, muitas outras surgindo, todas mudando e acelerando. Isso não é uma ameaça. É uma oportunidade fantástica para o futuro governante e para os candidatos atuais que, hoje, não estão minimamente mostrando conhecimento e enxergando as possibilidades.

Para encerrar, em um quadro do IPESPE, podemos ver o progresso dessa candidata em 30 dias. A soma de “Não votaria” com “Não conheço” caiu de 82% para 72%, enquanto que a soma de “Poderia votar” com “Votaria com certeza” subiu de 17% para 28%. Esses números mostram uma tendência forte.

Enfim, respondendo ao título desse artigo: Sim, certamente Simone Tebet tem chance.

(*) Paulo Milet, Matemática/UnB com Pós em Adm. Pública /FGV, é consultor e empresário nas áreas de TI, Gestão e Educação a Distância, Presidente do Conselho de Educação da ACRJ, Diretor da TIRIO/RIOSOFT e sócio-Diretor da ESCHOLA.COM

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