É das décadas de 80 e 90 na cidade de Medellín, na Colômbia, uma das recordações mais próximas que temos da crueldade de assassinos pagos pelo crime organizado. Eram os “sicários de Escobar”. Com punhados da polícia e da justiça corrompidas e envolvidas com o narcotráfico, eles impunham à bala as ordens e a vontade do traficante Pablo Escobar (morto pela polícia colombiana em 1993), dono dos bilionários negócios da cocaína.
Os sicários agiam quase sempre em duplas, em motocicletas. O carona executava a vítima a tiros. O motorista acelerava, fugindo no meio do trânsito, enquanto parceiros em outros veículos lhes garantiam a segurança. Assim foram sequestrados, torturados e assassinados centenas de colombianos. Eram comerciantes, jornalistas, juízes, promotores, políticos, policiais e pessoas que simplesmente estavam no lugar errado na hora errada. Nada que contrariasse e pusesse em risco o esquema dos bilionários negócios do tráfico da cocaína poderia sobreviver.
A mão dos justiceiros que dominavam o Estado à mando e à soldo do comandante supremo do cartel assassinou centenas de cidadãos. Entre eles, Rodolfo Lara Bonilla, o dono do El Espectador um dos mais influentes jornais colombianos. Em um comício, sicários fuzilaram o candidato à presidente Luis Carlos Galán, enquanto ele discursava no palanque à céu aberto e no meio de uma multidão. Fundador do partido do Novo Liberalismo, Galán havia sido ministro da Educação e defendia uma ofensiva pela via institucional para acabar com o narcotráfico.
Acuado e temendo ser extraditado aos Estados Unidos, Escobar recrudesceu a violência. Deixou de lado os sicários e evoluiu para os atentados a bomba. Em 27 de novembro de 1989, o traficante mandou plantar a bomba que derrubou um Boeing 727 da Avianca, matando todos os 107 ocupantes. Ele queria assassinar o candidato a presidente César Gaviria (que sucedeu a Luis Carlos Galán na disputa). Gaviria, no entanto, não estava no voo, e foi eleito presidente da Colômbia (1990-1994).
Em 6 de dezembro de 1989, um ônibus com 500 quilos de dinamite explodiu em frente à sede do DAS (Departamento Administrativo de Segurança) em Bogotá. Destruiu um quarteirão, deixou 70 mortos e mais de 500 feridos. Escobar pretendia eliminar o general Miguel Maza Márquez, diretor do DAS, que sobreviveu ao ataque. Reagia ao cerco que o Estado apertava, tentando acabar com o cartel e extraditar aos Estados Unidos o comandante da organização.
No Brasil, Escobar já temos muitos e nossos sicários continuam matando. Espera-se que o Estado consiga esboçar alguma reação antes que as bombas nos alcancem.