Há seis anos eu assumia o Ministério do Turismo, poucos dias depois de a Polícia Federal prender 36 pessoas entre colaboradores do MTur e outros acusados de fraudar um convênio de R$ 4,4 milhões. O cenário, a exemplo do que ocorre num nível macro com o Brasil hoje, era de crise de confiança. Os servidores se recusavam a assinar documentos fundamentais para o andamento da máquina pública. A mídia fazia o seu papel e esmiuçava os arquivos do ministério atrás de novas irregularidades.
Adotamos a estratégia de focar na gestão e na transparência para dar segurança a todos – servidores, gestores públicos de outras esferas e sociedade. A velha política pressionava por cargos e para manter práticas pouco ortodoxas que faziam sangrar os cofres públicos.
Resistimos, montamos uma equipe técnica, com o mínimo de interferência política. Optei por valorizar os servidores do próprio ministério. Implantamos uma série de ferramentas para estreitavam o diálogo com os órgãos de controle e permitiam que qualquer cidadão acompanhasse a execução orçamentária da pasta de forma simples, sem burocracia, pela internet no site do próprio órgão.
Como resultado do freio de arrumação e das medidas voltadas para a melhoria da governança, pouco mais de dois anos depois da minha posse, o MTur foi o único órgão do governo a ganhar dois prêmios no Primeiro Concurso de Boas Práticas da Controladoria Geral da União. O reconhecimento veio nas duas categorias existentes: ações inovadoras de controle interno e promoção da transparência.
Conseguimos reverter o quadro e transformar o Ministério do Turismo em referência em gestão. Ganhamos credibilidade e, com isso, conseguimos um reforço orçamentário com a criação do PAC Turismo, no valor de quase R$ 700 milhões, três vezes o orçamento atual da pasta. Em todas as regiões do país, iniciamos a construção ou a reforma de centros de convenções, equipamentos fundamentais para o turismo de negócio e para gerar emprego e renda no setor. Saímos das páginas policiais e fomos para as de economia.
Hoje, ao assistir o noticiário e, como toda a sociedade, ficar estarrecido com a dimensão e o estrago causado pela corrupção no Brasil sou acometido por um misto de sentimentos dúbios. Por um lado a tristeza ao ver que a nossa maior empresa pública foi saqueada e, por outro, a felicidade em saber que conseguimos blindar o Ministério do Turismo dos desmandos que assolaram o país. A resistência que montamos foi eficiente e o MTur não é sequer citado na denúncia do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, mesmo ela tendo como foco o PMDB, partido do qual eu fazia parte.
As malas de dinheiro, os diálogos que escancaram a corrupção nas mais altas esferas da administração pública e as prisões de políticos renomados geraram a supervalorização de princípios elementares. Ética, correção e responsabilidade deixaram de ser características básicas e passaram a ser um diferencial dos homens públicos. Honestidade não deveria ser, por si só, uma credencial para a vida política. Ela é básica e, como tal, fundamental, mas precisamos de mais. O Brasil precisa de ética aliada à eficiência para dar a volta por cima.