Nunca tive grandes expectativas em relação à CPI da pandemia no Senado. Afinal, quem acompanhou o funcionamento das comissões de inquérito do Congresso nos últimos anos sabe que as sessões têm servido mais de palco para exibicionismo de alguns parlamentares do que propriamente para apurar os fatos de forma séria.
As CPIs também já foram instrumento de extorsão, como denunciou a Polícia Federal na Operação Vitória de Pirro, em 2016. Pelo que foi apurado e noticiado à época, o ex-senador do DF Gim Argello teria exigido propinas em dinheiro vivo de empreiteiros para livrá-los de convocação na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da Petrobras, tendo faturado mais de R$ 5 milhões.
Poucas CPIs ou CPMIs apresentaram um relatório consistente apontando responsáveis. Apesar da descrença, após mais 450 mil mortes, havia uma esperança mínima de que os senadores levassem a sério o papel de fiscalizador do Legislativo e, ao final, entregasse à sociedade um trabalho com algum resultado concreto.
Essa semana, no entanto, a “tropa de choque” bolsonarista conseguiu a primeira vitória do Planalto e aprovou a convocação de nove governadores e do ex-governador do Rio Wilson Witzel, melando a CPI. Tá certo que a CPI aprovou também a reconvocação de Pazuello e Queiroga. Mas não dá pra acreditar que a oitiva deles trará alguma novidade bombástica capaz de mudar os rumos das investigações.
Bolsonaro conseguiu o que queria quando pediu ao senador Kajuru que estendesse as investigações, misturando a apuração da má condução do governo federal com as roubalheiras nos estados. Quem conhece o funcionamento de uma CPI sabe que ampliar muito as investigações é a melhor maneira de não chegar a lugar algum.
Claro que a roubalheira nos estados tem que ser apurada e os responsáveis punidos, mas isso a Polícia Federal já vem fazendo sem necessidade da ajuda do Senado. Tanto que os governadores convocados já receberam a visita dos agentes e enfrentam investigações em seus estados. Ou seja, os senadores vão fingir que estão investigando o que já foi investigado.
O Planalto também comemora a não votação dos requerimentos para a quebra de sigilo bancário, fiscal e das comunicações eletrônicas de Fábio Wajngarten, de Pazuello e do ex-chanceler Ernesto Araújo.
Em ano pré-eleitoral, a convocação de governadores, além de embolar as investigações ampliando o escopo da CPI, certamente vai criar embaraços políticos transformando a comissão num grande palanque.
A CPI acedeu o forno para assar a pizza. Resta saber qual o sabor..