O Rio é uma Cidade Maravilhosa, abençoada pela beleza, natureza e pela santidade. Não à toa, Monteiro Lobato, que era paulista, a considerou o Almoxarifado de Deus, de onde o Criador retirou ‘insumos’ para concepção do Universo, deixando por cá as ‘peças de reposição’ permanentes.
Em sua santimônia, a mais bela cidade do planeta tem dois padroeiros: um oficial, São Sebastião, sincretizado como Oxossi na Umbanda e no Candomblé, e outro do coração eleito pelos cariocas: São Jorge ou Ogum nas religiões de matriz africana.
Todo 23 de abril é dia de Jorge. Salve Jorge, o Santo Guerreiro! Tem toque de alvorada, em clarim, saudando seu dia, tem fogos anunciando sua chegada, tem missa campal, tem bênção, tem bandeirada, tem cavalgada e procissão. Tem festa em um misto pagão e divino com feijoada e samba em sua homenagem.
Os terreiros e barracões ficam em festa. Tem oferenda e pontos entoados em seu louvor, pelas demandas vencidas nos campos de Humaitá. Tem espada-de-são-jorge cruzada para proteção.
Igrejas, ricamente enfeitadas para a data, rendem cultos a cada hora em seu louvor. Tem quermesse, tem venda de medida para colocar no pulso e no portão, na grade da capela e na carteira, para proteção. Tem medalhinha, imagem benta e patuá.
Jorge em Aruanda, o Santo Guerreiro que lutou contra o dragão da maldade. Lua de São Jorge, princesa Lucina, deslumbrante, cheia, branca e inteira, bandeira solta na amplidão, Lua de São Jorge, Lua brasileira, coração! Seu ginete, corcel branco, Ascalon, venábulo e azagaia. Jorge e Diocleciano, Jorge inegável fé. Mártir cristão. Santo protetor.
Os cariocas vestem branco, vermelho e azul em sua homenagem. São as roupas de Jorge. Todos andam vestidos e armados com as roupas e as armas de São Jorge, para que os inimigos, tendo pés não nos alcancem, tendo mãos não nos peguem, tendo olhos não nos vejam, e nem em pensamentos eles possam nos fazer algum mal. Para que armas de fogo os nossos corpos não possam alcançar. As facas e lanças se quebrem sem o nosso corpo tocar e cordas e correntes se arrebentem sem o nosso corpo amarrar. Todos vestidos com as roupas de Jorge.
Jorge é conde da Capadócia, sentou praça na cavalaria, Tribuno Militar, Salve Jorge, o Santo Guerreiro! General de Umbanda do Humaitá. Ogunhê!
Salve Jorge!
— Carlos Monteiro é Jornalista