Tanto quanto as mortes de milhões de vítimas do coronavírus, em todos os cantos da terra, surpreende e decepciona a humanidade, igualmente, as outras milhares de pessoas que se revoltam e não seguem a orientação do tratamento preventivo da doença, que comprovadamente tem obtido resultados positivos na redução do número de vítimas. Trata-se da política de isolamento social, quarentena para valer, cada qual em suas residências, saindo se for imprescindível para o seu trabalho ou, claro, atividades indispensáveis.
A contenção solicitada pelos governos não significa um sacrifício insuportável para a população nem uma iniciativa sem sentido. Ao contrário, tem evitado a propagação do maldito vírus, graças ao isolamento social e o uso das máscaras protetoras. Mesmo contra as máscaras os ignorantes protestam e se recusam a usar. Ou então as usam rebaixadas, praticamente no pescoço, mais como um adereço, inútil como mecanismo de proteção contra o vírus. Não adiantam as multas, a interdição de lugares públicos, as campanhas de esclarecimento, os apelos dos infectologistas, o lockdown, a ação de vigilantes. São milhares ou milhões de descrentes. Os grupos se multiplicam e se rebelam cada vez mais.
Tem sido infrutífera a ação do policiamento sanitário. Os ignorantes crescem como grupos organizados e não atendem aos apelos em favor da racionalidade. Querem ir à praia, jogar futebol na areia, passear de bicicleta, xingar os agentes de segurança, promover lives, pagodes, bailes funks, rodadas de samba, churrascos, peladas, e por que não umas cervejotas bem geladinhas, e um bom papo, em mesas nas calçadas. Vale tudo para os grupos que não se preocupam em ajudar a restabelecer a vida saudável, a partir dos isolamentos sociais. Eles não se importam com seus semelhantes e ignoram as determinações da saúde pública.
O retorno ao trabalho e a sobrevivência financeira são as razões para que tais grupos se comportem desta maneira, em vários países, com destaque no Brasil. A impossibilidade de retomarem seus atividades profissionais em vários setores, o fechamento de lojas, a perda do emprego, a falta de dinheiro é a preocupação maior. E há que prover a família. Todos querem trabalhar, mas se a atividade exercida resulta em aglomerações, contatos próximos entre as pessoas, como no comércio varejista, nas indústrias e nos esportes, as precauções tornam-se indispensáveis.
Basta uma parcela de sacrifícios pessoais e comunitários e uma correta avaliação do
problema para que a pandemia não continue a crescer. Permanecer mais tempo em casa, ou dela nem sair, pelo menos nos fins de semana não é um grande sacrifício para as famílias, fortalecidas pela convivência, mesmo forçada. Pode ser simplesmente chato. A impaciência da população já ganha caráter explosivo em vários países, de modo crescente e os resultados negativos iniciais estimulam a rebeldia, por enquanto ainda não transformada em violência. Algo que, brevemente, poderá acontecer.
Há urgência para a solução do problema da pandemia. Todos tem que voltar a trabalhar normalmente, recuperar os meses perdidos e honrar os parentes e amigos que se foram. Para atingir com mais rapidez esse objetivo é preciso a participação de todos, permanecendo em casa e obedecendo as restrições. Quando necessário, cumprir tarefas externas. Tomar as ruas, praias e parques para extravasar em termos de rebeldia e provocação às regras estabelecidas será contribuir para o sofrimento e a morte de milhares de brasileiros. Os que repetidamente vão às ruas protestar contra a quarentena estão contribuindo para encurtar o caminho das ruas para as UTIs, que já são poucas.
— José Fonseca Filho é Jornalista