Riscos e impasses de mais PT x PSDB

No gramado do Congresso, o protesto da Frente Nacional de Luta, os Sem Terra. Foto Sivanildo Fernandes

Nesta quarta-feira, 15, ativistas sociais e militantes de partidos de esquerda marcharão ao TSE para registrar a candidatura de Lula, embora o Dia D seja em 17 de setembro, último prazo para a troca de candidaturas. Se o PT insistir com o ex-presidente, corre o risco de ficar sem chapa. Se, no vaivém de recursos, os ministros do TSE, STJ e STF derem um jeito de interditar o petista de ofício ou estabelecer uma celeridade fora da curva, farão um favor ao PT, permitindo que seja antecipada a escolha por Haddad e este seja incluído, em tempo, nos debates, nas pesquisas e na cabeça do eleitorado.

O elogio do plano B do PT, Fernando Haddad, a Geraldo Alckmin, na semana passada, revelou o estado da arte da estratégia do PT para além do que tem sido especulado na imprensa:

1) O PT considera a hipótese de disputar com o PSDB uma vaga no segundo turno e este tipo de aceno serve para reduzir a hostilidade para receber apoio da tucana. Provando que pensa no vice-versa, o ex-governador paulista começou a fazer a parte dele no debate da Band, quando prometeu ampliar o Bolsa-Família e ameaçou a “bolsa-banqueiro”. Este, contudo, é um cenário remoto, na medida em que os confrontos Lava Jato x sistema político e a desigualdade social no Brasil (que apartou até hoje a agenda liberal da desenvolvimentista) tendem a reservar assentos para um nome de esquerda e de direita, a ver se nas versões moderada ou radical.

2) O PT quer tabelar com o PSDB para garantir a 6ª polarização em segundos turnos. Acredita que seria mais fácil derrotar o rival, no que é correspondido. Para os petistas, associar o PSDB ao Impeachment de Dilma, chamando-o de golpe, e à gestão Michel Temer, além do antigo carimbo de privatista, assegurariam a vitória. O xis da questão é que, quando aposta no poder de transferência de votos de Lula, o partido não parece pôr no horizonte que isto terá que ser usado, fundamentalmente, para convencer a sociedade de que um presidente que governa por procuração do ex-presidente e que o indultará são a melhor escolha. E, caso o Plano B chegue até lá, pois se verá com as acusações que carrega no âmbito da operação Lava Jato, terá que convencer também o eleitorado de que é válido um novo presidente vulnerável a procedimentos anticorrupção e ao risco da manutenção da esquerda nas páginas policiais.

A resiliência da deterioração dos indicadores sócio-econômicos e a libertação de Lula da impopularidade de Rousseff, despertaram saudade em larga parcela da opinião pública, mas não tornou o lulismo uma religião laica tal qual o peronismo, por exemplo. Para os tucanos, supõem, bastaria receber o apoio que consideram líquido e certo do MDB|Henrique Meirelles e arrastar o voto útil antipetista depositado em Jair Bolsonaro e Álvaro Dias.

O detalhe, moradia do Diabo, é que o MDB foi mais feliz nos governos petistas do que nos governos do PSDB e Meirelles já faz amplas concessões ao lulismo, como reivindicar o legado econômico e programas sociais das gestões de Lula, entre outras coisas para facilitar a vida das chapas majoritárias e proporcionais do emedebismo nos estados.

Adiante, o eleitorado de Bolsonaro e Dias (e do Sr. Ninguém) tenderão muito mais ao voto de protesto do que chancelar um campeonato de “menos pior” e de “mais corrupto”. Não é só a consigna “eleição sem Lula é fraude” que pode manter viva a crise política.

Leopoldo Vieira, editor do relatório de análise de cenários Idealpolitik, é especialista em Administração Pública pelo IESB, com atualização em Engaging Citizens: A Game Changer for Development, pelo Banco Mundial.

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