A encrenca que os ministros da Justiça e da Defesa estão metidos é bem mais complexa do que eles deixam transparecer.
A baderna e o vandalismo que tomou conta da praça dos Três Poderes, em Brasília, no final da tarde de domingo, já teve parte de seus responsáveis punidos: o governador Ibaneis foi afastado do governo; o secretário de Segurança de Brasília, Anderson Torres, foi exonerado e está com a prisão decretada; o comandante da PM do Distrito Federal, também exonerado, está na cadeia.
As punições são mais do que justas, mas está faltando alguns peixes graúdos.
Por que ninguém fala no comandante da Guarda Presidencial, coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora? Por que seus comandados só apareceram no Planalto duas horas após o início do quebra-quebra? Ele não será responsabilizado?
O comandante do Batalhão Duque de Caxias – a Guarda Presidencial, tem como missão “guardar as principais instalações do Governo Federal e do Comando do Exército, na capital da República, desde a sua fundação em 1960. Assim, mantemos o legado e o compromisso daqueles que originalmente integraram o Batalhão do Imperador”, diz o coronel em sua página na internet.
Segundo ele, o BGP é “desde o Império sentinela imortal”.
Tudo muito bonito, se o “sentinela imortal” não descansasse aos domingos ou, sabedor da baderna que viria, decidiu fazer vista grossa e deixou as instalações da República à mercê dos vândalos golpistas.
Em seu currículo, está dito que “uma vez granadeiro, sempre granadeiro”. “A Guarda morre, mas não se rende”.
Pode não se render, mas se omitiu e, por isso mesmo, seu comandante deveria ter o mesmo destino que as demais autoridades punidas: a destituição do cargo e, quem sabe, a cadeia.
Mas o coronel Da Hora não é, certamente, o único militar envolvido com os atentados terroristas que se espalharam pelo país.
Nesta semana, três torres de transmissão de energia foram derrubadas; toneladas de areia foram jogadas na porta de refinarias; um caminhão tanque de gasolina estava pronto para ser explodido junto ao aeroporto de Brasília, na véspera da posse do presidente.
Por isso, não basta o ministro da Justiça dizer que estão sendo identificados os financiadores dos bandidos.
Sabe-se que são empresários ligados ao agronegócio. Eles entendem de milho e soja, de fertilizantes e agrotóxicos. Quanto muito, conhecem algumas canções de duplas sertanejas.
Tem dinheiro em abundância para gastar com golpistas, mas não tem inteligência para traçar planos de terror. Isso é coisa de militar.
E esses, sejam da ativa ou da reserva, precisam ser descobertos, processados e presos.
No final dos anos 80, o então capitão Jair Messias Bolsonaro, fez fama no Exército quando planejou explodir bombas em quartéis e em um sistema de abastecimento de água, em protesto por melhores salários.
Na época, Bolsonaro escapou da prisão em julgamento no STM, por sete a quatro, mas teve que deixar o Exército.
Anos depois, seus colegas, terroristas de Estado, explodiram bombas em bancas de jornais, enviaram cartas assassinas e acabaram sendo vítimas do próprio veneno, quando uma bomba explodiu, no Riocentro, no colo de um sargento, dilacerando sua genitália e expondo as vísceras do terror estatal.
A anistia, para o bem ou para o mal, absolveu os dois lados: os que lutavam contra a ditadura, e os que torturaram e mataram em nome do Estado.
Ou se pune, agora, exemplarmente, os terroristas de hoje, ou então que se faça uma revisão na Lei da Anistia, para punir aqueles que há anos deveriam estar mofando nas cadeias.