Até as eleições deste ano, em 2 de outubro, portanto daqui a 10 meses, quantas vezes Jair Bolsonaro será internado novamente? Quantas intervenções cirúrgicas serão necessárias para corrigir as constantes obstruções intestinais que vem provocando dores, crises de soluço e mal-estar no presidente da República? Será que Bolsonaro tem condições de saúde para enfrentar uma campanha presidencial, devido a sequelas da facada em Juiz de Fora, ou será que essas internações não passam de jogada de marketing para tirar o foco das confusões criadas por ele mesmo?
Pela absoluta falta de transparência com a saúde presidencial são questões que precisam ser respondidas de forma clara e objetiva. A nossa história política tem vários exemplos de manipulação do estado de saúde de presidentes da República, a mais notória foi o calvário de Tancredo Neves. O eleitor precisa tomar conhecimento sobre o real estado de saúde de seu candidato, ainda mais quando ele está n Presidência da República. O cidadão tem direito de se informar se o candidato no qual pretende votar tem condições de concluir os quatro anos de mandato, pois, caso contrário, poderemos ter mais um vice na presidência.
Por outro lado, é importante saber até que ponto essas internações não são convenientes ao presidente. Afinal, além de gerar empatia em parte dos eleitores, elas servem para desviar o foco de questões importantes. Agora, por exemplo, o Brasil tem questionado a postura de Bolsonaro em relação à tragédia na Bahia, não apenas por não ter ido pessoalmente visitar os locais atingidos pelas chuvas, mas sequer deu uma palavra de apoio à população atingida, mantendo as férias e se exibindo de jet ski pelas praias de Santa Catarina e visitando parques temáticos.
Bem ou mal, a internação encerrou a discussão sobre o assunto, assim como também tirou de pauta a questão da vacinação das crianças de 5 a 11 anos, já autorizada pela Anvisa, mas questionada pelo Ministério da Saúde a mando de Bolsonaro.
Em julho do ano passado, o presidente foi internado com uma crise de soluços e obstrução intestinal justamente quando sua popularidade despencava, o número de mortes por covid no país atingia a maior alta e a CPI da Pandemia no Senado era prorrogada. Mudou a pauta imediatamente.
Na campanha, o presidente certamente será o principal alvo dos adversários, para fugir das explicações só mesmo com atestado médico. Ou alguém acredita que Bolsonaro participará dos debates? Nunca. Como ele vai responder questões não respondidas até agora como, por exemplo, por que o Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama Michele Bolsonaro? Como explicar a rachadinha do filho 01, senador Flávio Bolsonaro?
Sem falar na desastrosa condução da pandemia. Como Bolsonaro vai justificar a substituição do médico Nelson Teich pelo incompetente Pazzuello, resultando na falta de oxigênio em Manaus, na demora para responder a oferta da Pfizer, no contrato mal explicado com a Precisa para compra da Covaxin, entre tantos outros erros grosseiros que culminaram com a morte de mais de 630 mil brasileiros?
O que dizer da volta da inflação, do crescimento da fome, do desemprego, do aumento da gasolina, da crise energética, da devastação na Amazônia, da invasão de garimpeiros nas terras indígenas, da interferência em órgãos de Estado como a Polícia Federal, Abin, Ibama, Inep?
Como explicar o desmantelamento dos órgãos de controle para acabar com o combate à corrupção? O aumento da violência no país, o orçamento secreto e a farra das emendas, o apoio do Centrão e a filiação a um partido da chamada “velha política”, que Bolsonaro se elegeu prometendo combater?
Enfim, são tantas coisas inexplicáveis que o presidente terá que explicar que talvez o melhor mesmo seja ficar no hospital até o final da campanha.