Temos discutido bastante nesses tempos de pandemia, a aceleração dos modelos de transformação digital e os Tele-Tudo. Todos os segmentos da sociedade moderna em qualquer país passaram e estão passando por movimentos acelerados de transformação de processos manuais ou mecânicos, em processos online e automáticos, seja na saúde, educação, empregos, serviços, governos, judiciário, legislativo e também nas áreas de segurança e defesa.
Mas as notícias da semana envolvendo o conflito Ucrânia X Rússia, ainda nos mostram um modelo “antigo”, de tentativa de dominação de um país em função de fronteiras físicas e superioridade numérica em termos de tanques, soldados e armas (até atômicas), mesmo usando ofensivas inéditas, já que sabemos que a Rússia também comandou uma ofensiva cibernética contra sites da Ucrânia, tirando vários do ar.
O que Putin parece não ter previsto (será?) é que apesar dos países da OTAN não demonstrarem interesse em reagir da mesma forma que seria se a Ucrânia já fosse um país membro, com armas, soldados, tanques e aviões, muitas outras formas de apoiar e reagir existem e já começaram e envolvem não apenas os ucranianos.
Em um primeiro momento, ações de bloqueio financeiro e até de espaço aéreo foram adotadas. Mas ainda foram poucas. A rede Swift de conexão entre sistemas bancários foi bloqueada para a Rússia. O fornecimento de armas convencionais já começa a ser feito, especialmente pela Alemanha e outros países europeus e americanos. Apenas essas ações já poderão (e vão) gerar muito prejuízos.
Mas o que vem por aí é muito mais. A Ucrânia é conhecida como uma grande fornecedora de mão de obra em tecnologia de informação para vários países ocidentais. O Sistema de governo russo (como todos os outros) está fortemente amparado por sistemas interconectados cobrindo desde sistemas tributários, controles de pagamentos e recebimentos, sistema educacional e de saúde, cultura, turismo, aposentadorias, comércio, indústria e, principalmente, segurança interna e externa.
Já começou uma guerra cibernética (cyber war) de reação, onde, não apenas os funcionários públicos ucranianos, mas também os civis e voluntários de dezenas de países com especialização nesse segmento estão atuando.
Essa ação não depende de governos ou da OTAN. Como exemplo, temos que o site “anonymous”, conhecido por ataques hackers, decretou que está em guerra cibernética contra a Rússia. Vários outros sites já manifestaram solidariedade aos ucranianos e estão agindo.
Até a ex-secretária e ex-primeira dama Hillary Clinton em entrevista na semana, incentivou a guerra nesse formato. Vários sistemas, sites e TVs russas foram invadidos e estão transmitindo músicas folclóricas ucranianas. Informações sobre mortes de civis e detalhes da guerra, que eram negados aos russos, estão sendo inseridas nas noticias. Parece que o sistema de defesa russo não previu semelhante contra-ofensiva ou não tiveram como reagir.
Perceberam a diferença? Em termos de quantidade e poderio militar convencional, a Rússia é bem superior à Ucrânia. Mas, com o reforço de milhares de cidadãos de todas as partes do mundo especialistas em TI e hackheamento e indignados com a invasão, foi criado um exército cibernético (desorganizado, mas alinhado nesse propósito) muitas vezes maior do que a Rússia será capaz de mobilizar.
Até o site do Kremlin e de outros órgãos de governo russo foram afetados. Em pouco tempo, sites de serviços para a população russa em geral, também estarão certamente na alça de mira, provocando muita insatisfação interna da população civil e empresários locais.
A conclusão parece óbvia. A ação de invasão territorial como a praticada pela Rússia, não terá como consequência apenas uma reação física localizada. Mas reações mundiais que afetarão não apenas as forças destacadas e localizadas na frente física de combate.
Como todas as outras atividades no mundo moderno, as ações de defesa também serão e já foram transformadas digitalmente e uma guerra por território parece cada vez mais superada fazendo com que, mesmo que aparentemente vitoriosa, os prejuízos sejam enormes para a nação invasora. Que seja a última!
Vamos acompanhar pela internet. Procurem por cyber war, Rússia e Ucrânia e vejam os desdobramentos…
Paulo Milet é consultor em gestão, Inovação e EaD, Presidente do Conselho de Educação da ACRJ, formado em Matemática pela UnB, com pós em Administração Pública pela FGV e CEO da ESCHOLA.COM.