Estamos sob maciça campanha de promoção e endeusamento do programa BBB Brasil, há anos repetido pela Globo, que o apresenta como o maior sucesso de sua história. Na verdade um programa horrível, chegando às raias do ridículo, que conseguiu subverter a avaliação do público e ser parcialmente adorado. É também o que mais fatura em cifras e ganhos indiretos. Este que é o maior objetivo do programa. Arte nenhuma.
Apresentado como entretenimento é mais uma agressão à nossa inteligência, paciência e senso de ridículo. Os apresentadores são substituídos periodicamente. Gritam quase tanto quantos os participantes, que disputam jogos e brincadeiras infantilóides. Participam coroas e jovens de todos os sexos. Objetivo: ganhar milhões em prêmio ao que se sagrar vencedor das disputas.
Uma das maiores redes de TV do mundo apresentar uma mixórdia como sinal de excelência demonstra ataque à cultura e ao lazer. Roupas de mulheres e homens participantes são igualmente estrambólicas e pretendem ser provocantes. Elas não resistem ao exibicionismo. Peças mínimas também fazem sucesso, para revelar a beleza de seus corpos. Tem comilança desbragada em ambiente surreal, os participantes sempre escrachados.
Assim como faturar o máximo para a emissora, tudo que aparecer na tela é consequência de merchandising pago. Os anunciantes se sujeitam às imposições da peça. Os sketchs são criados para agregar anúncios, incorporados ao roteiro. Produtos alimentícios, louça, eletrodomésticos, bebidas, artigos esportivos, roupas novas. É pago, tudo que aparecer em cena, mesmo uma água mineral, custou muito dinheiro aos anunciantes.
Empresários acreditam que seus produtos na tela do BBB terão aumento de vendas. Geladeira, fogão, bola, skate, há de tudo na casa dos bebebês. Os casais surgidos na convivência da casa devem dormir amontoados. Com lençóis espalhados de modo a sugerir estripulias e dar um toque sexy. Muitos pagam tarifa mensal para acompanhar durante 24 horas tudo que lá acontece. Fossem educados estariam convivendo em espetáculos culturais, de teatro, música erudita, ballet, literatura.
Cada vez que um dos BBBs é desclassificado há uma torrente de tristeza e desespero. A saída é lamentada com choros e abraços. Na verdade, todavia, ficam todos satisfeitos, pois restarão menos concorrentes aos milhões do prêmio. A brincadeira dura meses. Os produtores acham que poucos brasileiros deixam de acompanhar sua maravilhosa criação. Consta ser o programa de maior audiência do país.
Os vencedores de programas passados são apresentados como exemplos de competência e valentia para vencer na vida. Ganham alguns milhões em prêmio e daí em diante não precisam trabalhar. Não são esses os padrões e exemplos de que os brasileiros carecem.
Corre que lá vem o Faustão
A Band segue o exemplo da concorrente e grita todas as noites, tresloucadamente, que o Faustão volta a atuar na emissora, depois de cumprir longo período de aperfeiçoamento na Globo. Para gáudio dos que o apreciam será agora um programa diário. Ufa!
Os fãs levarão um poderoso choque de alegria e suportarão as gracinhas ou broncas do apresentador. Segundo a propaganda bandista será um programa extraordinário. Já exibiram quase tudo que dele vai constar: as roupas das bailarinas, o lanche dos intervalos, os instrumentos novos. O estúdio foi ampliado e o salário de todos será aumentado quando começar a surgir os lucros do investimento.
Faustão foi liberado para eventuais grosserias não comprometedoras e alguns quadros da era Globo poderão ser mantidos com os títulos trocados. O das bailarinas terão sua apresentação ampliada, pela beleza e alegria que apresenta. Nada de vulgaridades. As roupas, sapatos, maquiagem das dançarinas, tudo já foi antecipadamente exibido nos trailers diários da Band. Quando começar o programa, o público já estará sabendo de tudo.
Não se trata de histeria anti-televisiva. As grandes redes de tv brasileiras – Globo, Band, Record, SBT – pouco ou nada apresentam de instrutivo, culturalmente enriquecedor ou educativo para o público. Poderia ser um meio de comunicação útil à sociedade, ao avanço cultural. No entanto, agride mais do que ajuda a população. O SBT é o recordista do baixo nível, chegando seu dono a jogar dinheiro para o alto e gargalhar vendo o público carente disputar a esmola em seus estúdios.
O duplo bombardeio dos dois canais sobre a audiência não passa de luta pela conquista de público cativo e maior faturamento. Uma espécie de BBB Grana.
— José Fonseca Filho é jornalista