A briga entre o presidente Jair Bolsonaro e o Judiciário, mais especificamente contra os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, ganhou novos contornos nas últimas 24 horas e deve se agravar após a prisão de mais um bolsonarista de carteirinha, o ex-deputado Roberto Jefferson.
Desde o início da semana que os ministros Jorge Oliveira, do TCU, e Nunes Marques, do STF, atuam para acalmar os ânimos e tentar selar um armistício entre as partes. Mas o trabalho tem sido cada vez mais complicado.
De um lado, Bolsonaro ataca os ministros do Supremo em entrevistas ou em conversas com apoiadores. Na semana passada, por exemplo, o presidente acusou o ministro Alexandre de Moraes de “jogar fora das 4 linhas da Constituição”. No dia seguinte, em Santa Catarina, chamou o presidente do TSE de “filho da puta” em meio a apoiadores.
O resultado desse embate é que Bolsonaro é alvo de 4 inquéritos no Supremo: o primeiro por suposta interferência na Polícia Federal, aberto a partir de acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro; a segunda investigação é para apurar crime de prevaricação na na tentativa de compra da vacina Covaxin, baseada na denúncia do deputado Luís Miranda à CPI da Pandemia; o terceiro inquérito foi aberto por ataques ao sistema eleitoral brasileiro e a ministros do STF e do TSE e o último, pelo vazamento de inquérito sigiloso da PF para apurar a invasão do sistema do Tribunal Superior Eleitoral por um hacker. Os dois últimos foram iniciados a pedido do ministro Barroso.
A prisão de Jefferson, um dos aliados mais fiéis do bolsonarismo, já era esperada por causa dos seus vídeos empunhando armas e conclamando os “conservadores” a irem às ruas defender as pautas do presidente Bolsonaro. No último, chegou a dizer que não teria eleição em 2022 caso o voto impresso não fosse aprovado pelo Congresso. A prisão irritou o presidente e seus aliados.
Até agora, Bolsonaro não reagiu. Somente seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, publicou no Twitter críticas ao ministro Alexandre de Moraes, sem citar diretamente Roberto Jefferson. A filha do ex-deputado, Cristiane Brasil, cobrou uma reação do presidente, mas até agora ficou sem resposta, pelo menos publicamente.
Se Bolsonaro agir agora como fez na prisão de outros bolsonaristas – Sara Winter, Oswaldo Eustáquio e o deputado federal Daniel Silveira, nem o PTB nem a família de Jefferson receberão qualquer palavra de apoio e solidariedade. Afinal, o presidente já tem problemas demais com o Judiciário.