O ano de 2022 colocou na pauta, de maneira contundente, uma nova visão sobre as relações internacionais de comércio que certamente tomarão forma significativa em 2023.
As preocupações com o clima afetam vários setores econômicos: energia, indústria, agricultura, construção e transportes. Energias alternativas dominam a pauta com a aceleração das intenções de substituição dos combustíveis fósseis. Na Europa, o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM, na sigla em inglês) pretende criar barreiras com custos para países com políticas climáticas fracas, para proteger os produtores locais. Há possibilidade de os EUA e a Europa imporem tarifas ao aço e alumínio da China. A palavra de ordem agora é aço verde. O Parlamento Europeu também resolveu proibir a importação de uma série de produtos que sejam oriundos de áreas desmatadas, o que pode prejudicar as exportações do agronegócio brasileiro. A lista inclui soja, carne bovina, cacau, café, óleo de palma e alguns derivados, como couro, chocolate, móveis e papel. A importação será proibida caso esses produtos sejam oriundos de áreas desmatadas após dezembro de 2020.
As preocupações geopolíticas com a crescente capacidade tecnológica da China e as ameaças de invasão de Taiwan, grande centro de produção de chips, faz com que os EUA criem programas bilionários para trazer essa indústria estratégica de volta, bem como várias outras indústrias associadas às tendências com o problema climático.
As oportunidades industriais devido à transição energética disparam a mobilização para os países tomarem posição de liderar o processo. Automóveis elétricos, placas solares, usinas de hidrogênio verde, pás eólicas e baterias formam um novo quadro de necessidades de investimento e já provocam ruídos inclusive entre os aliados EUA e Europa.
A guerra na Ucrânia explicitou a necessidade de alternativas energéticas ao gás russo na Europa. E naturalmente a energia subiu de preço por lá criando uma demanda ao mesmo tempo por energia barata, limpa e disponível. Há espaço para exportação de hidrogênio verde para quem conseguir produzir a partir de energia barata. Por outro lado, indústrias que exigem muita energia como aço e alumínio podem precisar de relocalização e o Brasil passa a ser uma opção interessante pela possível disponibilidade de todo tipo de energia limpa, incluindo os biocombustíveis e a hidroeletricidade, além de estar longe de guerras e invasões. Depois do friendshoring e nearshoring reposicionando a localização de indústrias por causa de geopolítica, vem aí o powershoring, quando a localização depende da energia. O powershoring refere-se à descentralização da produção para países próximos a centros de consumo e que oferecem energia limpa, segura, barata e abundante, além de outras virtudes para a atração de investimentos industriais.
As placas tectônicas da globalização estão se movendo. Podem provocar terremotos para quem não se preparar e tsunamis de oportunidades para quem fizer o dever de casa.
Evandro Milet – Consultor em inovação e estratégia e líder do comitê de inovação do Ibef/ES