Parece ousadia quando um cidadão comum toma a iniciativa de enviar correspondência para o personagem mais famoso do mundo, embora costume nos visitar só uma vez por ano. Querido, simpático, bonachão, obeso – ops, cuidado!- barbudo e estimadíssimo por toda a população mundial. Fala pouco – rô, rô, rô – mas lhe basta. E os terráqueos lhes correspondem com alegria e muita emoção, especialmente a criançada. Uma convivência longeva, fraterna e emotiva. Nessa fantástica relação dois fatores estão sempre unidos: pedidos e presentes.
Ocorre atualmente a pessoas mais sensíveis com a situação de sofrimento, fome, pobreza e doenças talvez da maior parcela da humanidade, a possibilidade de que esta comemoração alegre, que celebra o nascimento do bom Jesus, passe a ganhar outros significados, além do festivo. E se transforme numa celebração da vida e da felicidade de todos os seres humanos. É bom destacar que avanço inclui união de raças, de cores e credos diferentes. Parece um pesadelo, um ato de grandeza esquecida, a persistência da violência contra aqueles que divergem na cor. Os brancos devem respeitar os negros. Todas as raças precisam conviver com base na fraternidade.
Vários grupos, ao redor do vasto mundo, cogitam ampliar a remessa de cartas para o Papai Noel, mas com drástica redução dos pedidos de brinquedos fúteis. A serem substituídos por presentes mais úteis. Podem ser roupas, livros, alimentos não perecíveis, medicamentos, compostos alimentares, brinquedos instrutivos, produtos esportivos e tudo o mais que beneficie as crianças na saúde e na educação. Até a participação em cursos. Brinquedinhos não fazem mal, realmente, e é certo que o lazer e a diversão, com seus estimulantes, se integram ao mundo infantil. O que precisa é estimular também o uso de objetos que distraem e instruem. Fazem desenvolver a inteligência, despertar a criatividade.
Será que o Bom Velhinho aceitaria esta inovação, presumivelmente acatada por boa parte da humanidade? O Papai Noel teria de reservar mais tempo para a leitura da correspondência, porque os pedidos seriam mais sofisticados, e os anteriores se limitavam a carrinhos, bonecas, bolinhas de sabão e outras quinquilharias. Todo o sistema de distribuição da equipe de Noel teria de ser revisto, e depender de maior colaboração financeira. A humanidade, muito provavelmente, ficaria feliz se pudesse ajudar mais os irmãos que passam necessidades, na alimentação, na habitação, na saúde e na educação.
E esse mundo em que vivemos ou tentamos sobreviver seria mais apto para proporcionar aos humanos a oportunidade de terem uma vida feliz, salvo ocorrências infortunas. Foi para isso que o bom Deus teve tanto trabalho na criação do nosso mundo, e deixou o exemplo de seu filho Jesus. O Papai Noel entrou na história da humanidade como fator de alegria, fraternidade e amor. Em seus deslocamentos noturnos, a partir do gélido Polo Norte, no rumo de várias regiões da Terra, tem ele a possibilidade de constatar a situação de carência e sofrimento aqui na Terrinha.
Nosso Papai Noel viaja mais pelos países ricos e gelados, onde distribui os brinquedinhos para a garotada. Claro, com aquela roupa especial contra o frio, ele não poderia esticar até as regiões tropicais. De bermuda não ficaria bem. Talvez uma roupa de linho, tecido mais arejado. Primeiro é preciso organizar o novo roteiro. E considerar que, para essas regiões abafadas, as necessidades da população são semelhantes, a despeito de haver países realmente muitos ricos. Mas a troca de brinquedinhos por peças de valor educativo, que o Bom Velhinho pode adotar gradualmente, comunga o lazer sadio com a valorização do espírito criativo humano.
— José Fonseca Filho é Jornalista